BRASÍLIA - Na semana passada, Roger Noriega (o homem dos EUA para América Latina) desancou a Argentina enquanto funcionários do Departamento de Estado acusavam a Venezuela de ser uma espécie de central terrorista. Ao lado de Cuba, claro.
Nesta semana, Bush estará todo sorrisos em Monterrey, na Cúpula das Américas, reservando um pouco do seu precioso tempo para conversas bilaterais com Lula, do Brasil, com Néstor Kirchner, da Argentina, e quiçá com Hugo Chávez, da Venezuela.
Justamente os presidentes que vêm sendo olhados com especial curiosidade, interesse e doses de temor pelos EUA de Bush, que disputa a reeleição neste ano e que tudo o que não quer -evidentemente- é uma guinada à esquerda na América Latina.
Queira ele ou não, há algo acontecendo, sim. Lula anda fazendo tudo direitinho dentro da cartilha e já avisou ao mundo que jamais gostou do rótulo de esquerda. Mas o que é Lula e o que sempre foi o PT?
Kirchner é mais populista do que esquerdista, mas tem garantido expectativas de crescimento razoáveis e índices de popularidade altos com o tom independente e um tanto desaforado para os EUA e o FMI.
Quanto a Chávez, é quase delirante a parte da história de que estaria até financiando terroristas árabes. Mas faz todo sentido que estivesse estimulando grupos de esquerda nos países andinos (Peru, Bolívia, Colômbia e Equador) como alavanca para outros movimentos do resto do continente.
Falar em "esquerda" hoje é sempre complicado, e talvez o melhor seja considerá-los grupos e movimentos que tentam reagir com altivez à força sufocante dos EUA.
É nesse sentido que a América Latia está indo para a "esquerda"? Pois que vá! Quem disse isso primeiro, aliás, foi o próprio secretário Colin Powell. Quem repetiu, depois, foi o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia. E quem somos nós para dizer o contrário?
Só não dá para achar que Bush adore isso nem para prever conversas fabulosas em Monterrey. No mínimo, um show de hipocrisia.



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