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Responsabilidade socioambiental
RUY ALTENFELDER
Será que a relevante questão da responsabilidade socioambiental corporativa está sendo bem focada
no Brasil e no exterior?
SERÁ QUE a relevante questão da
responsabilidade socioambiental corporativa está sendo bem
focada no Brasil e no exterior?
Recente trabalho do jornalista Ben
Elgin publicado na conceituada revista "Business Week" mostra que a
maior parte das ações nessa área são
inócuas, a não ser para o marketing
das companhias.
O articulista cita o ambientalista e
professor Auden Schendler, que afirma ter cometido um erro, no passado,
quando insistiu em que o marketing
de um resort norte-americano localizado em Aspen (Colorado, EUA) fizesse ousadas "afirmações verdes",
apoiadas nos CER (créditos de energia renovável). Esclareceu que os
CERs são um tipo de esquema financeiro ao qual as empresas vêm recorrendo para justificar afirmações de
terem reduzido sua contribuição líquida para o aquecimento mundial.
De maneira contundente, o especialista sustenta que grande parte do
ambientalismo empresarial não passa de estatísticas enganosas.
Crítico dos CERs, afirma que estes
têm igual efeito sobre o desenvolvimento de novos projetos de energia
renovável quanto teria o comércio de
"pedras preciosas, notas promissórias ou abobrinhas".
Ao concluir suas críticas, Schendler
diz que "a idéia de que atitudes ecológicas são divertidas, fáceis e baratas é
perigosa. Ser verde implica trabalho
duro. Nem sempre lucrativo".
No Brasil, constata-se que empresas públicas e privadas, industriais,
comerciais, de serviços, bem como
instituições financeiras, têm centrado suas imagens institucionais como
defensoras da chamada responsabilidade socioambiental. Deve ser louvado esse espírito cívico-corporativo,
mas é necessário também "separar o
joio do trigo".
O professor Jacques Marcovitch,
ex-reitor da Universidade de São Paulo e autor do livro "Para Mudar o Futuro", editado pela Edusp, no capítulo
da "Responsabilidade Social", cita
empresas dos setores de siderurgia e
mineração, mencionadas com freqüência -e merecidamente- como
grandes agentes poluidores do ar, da
água e do solo, que têm redobrado esforços para mudar tal quadro.
Usando tecnologias modernas e investindo crescentemente em programas ambientais, empresas do segmento alcançam resultados que começam a repercutir e marcam um diferencial quando comparadas ao parque siderúrgico norte-americano.
O interesse das empresas pela exploração sustentável é excelente opção estratégica. Como afirma o professor Marcovitch, os recursos naturais no Brasil, mesmo sob a proteção
indispensável de uma avançada legislação ambiental, encerram enormes
possibilidades econômicas.
A missão de uma empresa é respeitar as leis, prestar serviços ou fabricar
produtos de qualidade e lucrar. Empresa não pode centrar sua imagem
mostrando ser boazinha e ficar se
preocupando em divulgar balanços
sociais. Empresa não é instituição de
caridade, não é governo nem organização não-governamental.
Causas são objeto e missão de organizações não-governamentais, políticas públicas são objeto e missão de
governo. Empresas são organizações
voltadas para a produção econômica e
devem ser vistas como tal.
RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA, 68, advogado, é
presidente do Conselho Superior de Estudos Avançados
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo). Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de
São Paulo (2001-2002).
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