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CARLOS HEITOR CONY
Lula viu a uva
RIO DE JANEIRO - Já no segundo mês
de seu governo, Lula tem se saído esplendidamente no papel de rainha
da Inglaterra. Enquanto o PT pega
fogo, enquanto os diversos escalões
da administração pública brigam
por espaço e não se entendem no
tempo, ele não está nem aí.
Recebe medalhas do mérito militar,
passa as tropas em revista, dá bom
recado nos fóruns a que comparece,
seja em Porto Alegre, seja em Davos,
deixa-se envolver pelo povo que o
idolatra, ri quando tem vontade de
rir, chora quando tem vontade de
chorar, é espontâneo como um vulcão que irrompe e autêntico como
um desses chineses que fazem mágicas num circo.
Isso não quer dizer que esteja ausente da coisa pública. Nomeou gente
que considerou capaz, tem a dedicação e a competência de dois primeiros-ministros -Dirceu na seara política e Palocci na área econômica.
Descendo de importância, os demais
ministros, secretários disso e daquilo,
assessores e assimilados se encarregam de enfrentar a tourada das crises, do excesso de problemas e da falta de dinheiro.
Ele cumpre maravilhosamente o
seu papel de chefe de Estado, não
apenas com a dignidade que seus adversários não acreditavam que tivesse mas com surpreendente naturalidade. Ficou à vontade quando esteve
com os grandes da Alemanha e da
França, parecia amigo de infância de
Chirac e de Schröder, ficando por
nossa conta imaginar em que idioma
tanto se deram bem.
Admirei sobretudo o seu encontro
com a rainha das uvas na semana
passada, em Caxias do Sul. É um mico que todos os presidentes pagam.
Mas, enquanto Collor, Itamar, Sarney e FHC ficaram boquiabertos
diante da rainha, Lula não deu bola
para a moça e, como aquele Ivo das
cartilhas antigas, viu a uva. E comeu
uma delas.
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