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ELIANE CANTANHÊDE
Rápidos no gatilho
BRASÍLIA - Jobim foi rápido no
gatilho e acertou o general-de-Exército Maynard Marques de Santa Rosa, que chamou a comissão da
verdade (para apurar torturas na
ditadura militar) de "comissão de
calúnias", cheia de "fanáticos que,
no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e
o assalto a bancos". Adivinha a
quem ele se referia?
Jobim leu a Folha, ligou para o
comandante do Exército, Enzo
Martins Peri, falou com Lula e ajustou a mira. O tiro em Santa Rosa,
porém, não foi no coração. Ele está
sendo exonerado da chefia do Departamento Geral de Pessoal e indo
fazer nada no gabinete do comandante até 31 de março, quando cai
na reserva por tempo.
A exoneração, assim, foi um ato
político para mostrar que:
1) Militar não pode brincar com
explosivos, nem ameaçar o poder
civil, nem questionar publicamente
o presidente (que assinou o decreto
da comissão da verdade);
2) Ninguém quer confusão, a
ponto de abrir um longo e rumoroso julgamento para expulsar o general com base no "Regimento Disciplinar do Exército". O risco seria
transformá-lo em herói.
Jobim teve pressa para evitar que
oficiais se solidarizassem tanto
com Santa Rosa como com o que
ele escreveu. O general é "porta-voz" da "linha dura" do Exército e
já tinha criado caso duas vezes antes, provocando Jobim. Numa, por
causa da reserva Raposa/Serra do
Sol. Noutra, por causa da Estratégia
Nacional de Defesa.
No caso das críticas à comissão
da verdade, a dúvida do próprio governo é se foi realmente "em nome
pessoal", como disse Enzo Peri a
Jobim, ou se Santa Rosa aproveitou
a proximidade da ida para a reserva
para manifestar um sentimento
disseminado no Exército. Nesse caso, ele sai do departamento, mas a
insatisfação continua.
Dia do fico: recém-filiado ao PT,
Amorim disse a Lula ontem que
não é candidato a nada.
elianec@uol.com.br
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