São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Esquisita essa crise

MADRI - Se tivesse combinado com a sabedoria convencional, o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, teria a obrigação de ser derrotado na eleição de domingo.
Afinal, tanto o desemprego como a inflação alcançaram na véspera da votação seus índices mais altos no período Zapatero, iniciado em 2004. No caso dos 8,8% de desemprego, representam o índice mais alto em dez anos.
Sem falar que produtos básicos, como leite e frango, estão tendo altas espetaculares (como no mundo todo, de resto).
Como a sabedoria convencional diz que o pessoal vota com o bolso, então Zapatero deveria ter sido derrotado. No entanto, ganhou, com 20 mil votos a mais do que obtivera na primeira vitória, em 2004, e um ponto percentual acima do placar daquele ano. Não sou dos que aceitam plenamente a sabedoria convencional.
Cada eleição, em cada país, ganha muitas vezes características próprias. Emoções têm algo a ver com o resultado, mas não posso brigar com a realidade e, portanto, não dá para negar que a situação econômica é um agente poderoso para decidir o voto.
Se é assim, a vitória de Zapatero parece reflexo do jeito estranho que está tendo a turbulência global. Ao menos na Espanha, ela está muito mais presente no noticiário do que na rua, do que nos cafés e bares de "tapas" (os petiscos típicos da terra), eternamente lotados.
Pesquisa de fevereiro prova: quase a metade dos entrevistados acha que a situação do país está "mal/ muito mal". Mas também quase a metade diz que sua situação pessoal está "boa/muito boa".
Leitura possível: os 11 milhões de eleitores que reelegeram Zapatero olharam para o próprio bolso, e não para os números macroeconômicos globais, como se fossem animais diferentes. Cruzar-se-ão em algum momento?

crossi@uol.com.br


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