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CLÓVIS ROSSI
Esquisita essa crise
MADRI - Se tivesse combinado
com a sabedoria convencional, o
presidente do governo espanhol,
José Luis Rodríguez Zapatero, teria
a obrigação de ser derrotado na
eleição de domingo.
Afinal, tanto o desemprego como
a inflação alcançaram na véspera da
votação seus índices mais altos no
período Zapatero, iniciado em
2004. No caso dos 8,8% de desemprego, representam o índice mais
alto em dez anos.
Sem falar que produtos básicos,
como leite e frango, estão tendo altas espetaculares (como no mundo
todo, de resto).
Como a sabedoria convencional
diz que o pessoal vota com o bolso,
então Zapatero deveria ter sido derrotado. No entanto, ganhou, com
20 mil votos a mais do que obtivera
na primeira vitória, em 2004, e um
ponto percentual acima do placar
daquele ano.
Não sou dos que aceitam plenamente a sabedoria convencional.
Cada eleição, em cada país, ganha
muitas vezes características próprias. Emoções têm algo a ver com o
resultado, mas não posso brigar
com a realidade e, portanto, não dá
para negar que a situação econômica é um agente poderoso para decidir o voto.
Se é assim, a vitória de Zapatero
parece reflexo do jeito estranho que
está tendo a turbulência global. Ao
menos na Espanha, ela está muito
mais presente no noticiário do que
na rua, do que nos cafés e bares de
"tapas" (os petiscos típicos da terra), eternamente lotados.
Pesquisa de fevereiro prova: quase a metade dos entrevistados acha
que a situação do país está "mal/
muito mal". Mas também quase a
metade diz que sua situação pessoal
está "boa/muito boa".
Leitura possível: os 11 milhões de
eleitores que reelegeram Zapatero
olharam para o próprio bolso, e não
para os números macroeconômicos
globais, como se fossem animais diferentes. Cruzar-se-ão em algum
momento?
crossi@uol.com.br
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