|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
O pior passou, a crise fica
BRASÍLIA - Lula deve estar remoendo o erro de não ir à República
Dominicana para o "gran finale" de
uma guerra que nunca houve.
Ele tem encontro com Chávez em
Recife no dia 26 e confirmou sua ida
à reunião da Unasul (América do
Sul) nos dias 28 e 29. Assunto não
falta. Tensão também não.
Alvaro Uribe, da Colômbia, falou
poucas e boas dos vizinhos por suas
ligações com as Farc. Rafael Correa,
do Equador, cuspiu fogo contra Uribe e a Colômbia. Mas, no final, uma
semana de crise acabou em pizza,
quer dizer, em um aperto de mão
entre os dois contendores e abraços
e sorrisos entre os arquiinimigos
Uribe e Chávez.
O pior passou, mas a crise fica. Fica enquanto a comissão da OEA investiga as circunstâncias do bombardeio colombiano às Farc em território equatoriano; enquanto a Colômbia insiste nas ligações do
Equador e da Venezuela com as
Farc; enquanto eles acusam Uribe
de ser pau-mandado dos americanos. E fica, principalmente, enquanto não se souber como a questão da guerrilha vai ser tratada.
As Farc mantêm a jóia da coroa,
Ingrid Betancourt, que tem apoio
do governo francês, mas já soltaram
alguns dos seus reféns políticos.
Também perderam seu número
dois, Raúl Reyes, e continuam perdendo seus líderes. Demonstram
fraqueza, portanto.
Como se trata de um grupo isolado, com poucos contatos fora, ninguém arrisca prever quais serão
suas reações diante da fragilidade.
Alguma ação espetacular? Reabrir
canais de negociação?
A crise Colômbia-Equador não
foi uma crise em si mesma, gerada
por um episódio perdido no tempo
e no espaço. Tem toda uma contextualização que não evaporou com
um aperto de mão, alguns abraços e
os sorrisos de Chávez. E continua
latente. Sem esquecer que, além das
Farc, há os sanguinários paramilitares de direita. Para atacar uns, é
preciso atacar os outros.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: Madri - Clóvis Rossi: Esquisita essa crise Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Direito e dever Índice
|