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CARLOS HEITOR CONY
Direito e dever
RIO DE JANEIRO - Como freqüentemente acontece com qualquer tipo de debate, a questão sobre
as pesquisas com células-tronco está futebolizada -uma versão plebéia do velho e desgastado maniqueísmo, que demoniza a opinião
contrária, atribuindo-a aos baixos
instintos da humanidade, responsáveis por tudo o que acontece de
ruim na história.
O satã de plantão é a Igreja Católica e alguns de seus adeptos, que
não aprovam as pesquisas sobre um
assunto em que a ciência ainda não
deu sua palavra final, uma vez que
não chegou a determinar o ponto
exato do começo da vida humana. A
própria ciência percorre um caminho muitas vezes errado. De 50 em
50 anos, até em ciências exatas, como a física, as verdades são modificadas. O caso mais visível envolve
dois gênios, Newton e Einstein.
O ministro do STF que pediu vista do processo naquela Corte está
sendo crucificado pelo fato de ser
católico praticante, um direito que
lhe assiste. Se a questão envolvesse
homossexuais, liberdade de culto
para as seitas afrobrasileiras, um
magistrado que fosse homossexual
ou adepto da umbanda não seria
acusado de estar vendido ao movimento gay nem pressionado pelos
diversos terreiros existentes. Teria
reconhecido o direito de ter sua
opinião -e seria até mesmo elogiado por isso.
Sou a favor das pesquisas, embora não acredite nas maravilhas prometidas pelo uso das células-tronco. É apenas um estágio importante
na tentativa de recuperar tecidos
-processo que deve continuar,
uma vez que não implica uma forma de homicídio.
A simples fecundação não significa a existência de um novo ser humano. Adoto, enfim, uma posição
contrária à da igreja. Mas, como os
homossexuais e umbandistas, ela
tem o dever moral e constitucional
de lutar pelos valores que defende.
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