São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Direito e dever

RIO DE JANEIRO - Como freqüentemente acontece com qualquer tipo de debate, a questão sobre as pesquisas com células-tronco está futebolizada -uma versão plebéia do velho e desgastado maniqueísmo, que demoniza a opinião contrária, atribuindo-a aos baixos instintos da humanidade, responsáveis por tudo o que acontece de ruim na história.
O satã de plantão é a Igreja Católica e alguns de seus adeptos, que não aprovam as pesquisas sobre um assunto em que a ciência ainda não deu sua palavra final, uma vez que não chegou a determinar o ponto exato do começo da vida humana. A própria ciência percorre um caminho muitas vezes errado. De 50 em 50 anos, até em ciências exatas, como a física, as verdades são modificadas. O caso mais visível envolve dois gênios, Newton e Einstein.
O ministro do STF que pediu vista do processo naquela Corte está sendo crucificado pelo fato de ser católico praticante, um direito que lhe assiste. Se a questão envolvesse homossexuais, liberdade de culto para as seitas afrobrasileiras, um magistrado que fosse homossexual ou adepto da umbanda não seria acusado de estar vendido ao movimento gay nem pressionado pelos diversos terreiros existentes. Teria reconhecido o direito de ter sua opinião -e seria até mesmo elogiado por isso.
Sou a favor das pesquisas, embora não acredite nas maravilhas prometidas pelo uso das células-tronco. É apenas um estágio importante na tentativa de recuperar tecidos -processo que deve continuar, uma vez que não implica uma forma de homicídio.
A simples fecundação não significa a existência de um novo ser humano. Adoto, enfim, uma posição contrária à da igreja. Mas, como os homossexuais e umbandistas, ela tem o dever moral e constitucional de lutar pelos valores que defende.


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