São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Nas mãos de Deus

BRUXELAS - Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de junho do ano passado:
"Não tem um Congresso Nacional, não tem um Poder Judiciário -só Deus será capaz de impedir que a gente faça este país ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar".
Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira passada:
"Que Deus possa ajudar o povo brasileiro, sobretudo aqueles que estão sofrendo, sobretudo aqueles que estão desempregados".
Em dez meses, vê-se que o presidente passou da bravata tola à impotência, sempre invocando Deus.
Ou, posto de outra forma, nem é preciso fazer análises muito profundas nem recorrer aos discursos da oposição para atestar como, tão rapidamente, o governo Lula passa da sensação de todo-poderoso à confissão de fracasso, ao admitir que ele não pode ajudar "o povo brasileiro", devolvido às mãos de Deus.
Difícil discordar do leitor Jackson Vitoriano de Ulhoa, que, no "Painel do Leitor" de ontem, escrevia que Lula "terceirizou a esperança".
Esperança (lembra-se?) que teria vencido o medo nas eleições de 2002. Quinze meses depois da posse, o próprio presidente confessa que os brasileiros devem abandonar toda esperança em seu governo e depositar a expectativa de ajuda em Deus, unicamente em Deus.
Pelo menos o presidente parece ter esquecido aquele discurso messiânico em que parecia se colocar como enviado de Deus, capaz de resolver todos problemas da pátria. Passa de um extremo a outro: vai da certeza de que o Brasil ocupará o luminoso lugar na Terra que lhe é devido desde Pedro Álvares Cabral à certeza de que ou Deus ajuda o "povo" ou, sempre nas palavras de Lula, "a Páscoa será mais bem comemorada por uns do que por outros".
Poderia ter acrescentado: a Páscoa, as festas juninas, a Independência, a República, o Natal, o Ano Novo, a Páscoa de 2005...


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