São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

A verdadeira bomba

BRASÍLIA - O assunto esfriou, mas não morreu. As insinuações de parte do governo Bush e da imprensa americana de que o Brasil estaria escondendo algum projeto de bomba atômica ficaram no ar.
Como diz Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula, nenhum setor brasileiro quer brincar de bomba -nem o governo, nem a oposição, nem os militares, nem a academia, nem a mídia, nem os malucos.
Se há bombas, são de outro tipo. As dos EUA estão no Iraque, que Bush invadiu sob o pretexto mentiroso das tais armas químicas (que nunca apareceram). Os iraquianos estão reagindo. Recuperam cidades, matam americanos. Quer bomba maior do que essa -e em ano eleitoral?
E a bomba brasileira não é atômica, pelo contrário. Na década de 70, a economia brasileira cresceu 8,79% e a demanda por energia elétrica, 10%. Na de 80, foram 3,02% contra 8%. Na de 90, 1,8% contra 5,6%. A energia nuclear é importante para equilibrar essa conta e evitar o colapso.
Há 441 usinas nucleares operando em 32 países, e mais 32 estão em construção. O Brasil tem duas usinas (Angra 1 e Angra 2), 35 unidades e uma 36ª a caminho, em Resende (RJ). A energia nuclear corresponde a 17% do consumo mundial e a apenas 4,3% no Brasil.
Então, senhor e senhora, por que os EUA estariam tão preocupados com a nova unidade de Resende? E por que a AIEA (a agência internacional de fiscalização) estaria tão interessada em exigir inspeção visual das centrífugas, em vez de manter a tradicional inspeção a distância?
Há várias possibilidades. Três delas: trauma do terrorismo, aliado ao medo descabido de uma "escalada da esquerda" na América do Sul; "curiosidade" sobre a tecnologia brasileira; disputa comercial, já que o Brasil atualmente manda enriquecer urânio fora e sonha ser fornecedor internacional de urânio enriquecido.
Diplomatas, militares e técnicos estão convencidos de que o xis da questão é comercial. Se for, a guerra de pressões e cobranças está apenas começando. Sem bomba nenhuma.


Texto Anterior: Bruxelas - Clóvis Rossi: Nas mãos de Deus
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A culpa feliz
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.