|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MILITARES NO RIO
Há uma série de problemas
nos entendimentos entre os
governos federal e do Rio de Janeiro
com vistas a utilizar as Forças Armadas no combate ao tráfico de drogas
na capital fluminense. Já de início a
Constituição prevê que é da Polícia
Federal a tarefa de "prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes". O mais razoável, portanto, seria
intensificar a presença da PF no Rio.
É certo que a Carta permite a convocação de militares para a manutenção da lei e da ordem. Mas não parece ser esse o caso em questão.
Embora o quadro do Rio seja preocupante, ele pode e deve ser enfrentado pela polícia do Estado com auxílio
da PF. Se as autoridades consideram
que essas instituições não reúnem
condições de cumprir a missão, sendo necessário o concurso do Exército, então que o digam claramente,
pois seria um fato extremamente
grave, a exigir medidas drásticas.
Há, é claro, uma dimensão política
em cena, envolvendo as duas esferas
de governo. Na área de segurança,
tem-se observado uma sistemática
tentativa das autoridades fluminenses de transferir responsabilidades
para a esfera federal. Com isso, procuram divulgar a idéia de que o Rio
foi abandonado pelo governo. Este,
por sua vez, dá margem a críticas ao
deixar de cumprir compromissos e
reluta em fornecer recursos ao Estado sem participar do comando.
É nesse contexto que se chegou à
esdrúxula participação das Forças
Armadas. Em não se tratando de um
caso de esgotamento da capacidade
de ação do Estado e de flagrante
rompimento da ordem, fica difícil
justificar a presença militar. Por isso
mesmo ela deverá restringir-se a treinamento, apoio logístico e informações. Com isso, o governo federal
pode mostrar à sociedade fluminense que está cooperando, sem precisar
ceder no comando, já que não cabe à
governadora chefiar militares.
A cooperação pode resultar em
avanços, mas só fará sentido se for
acompanhada de medidas mais
abrangentes e profundas. Ademais,
corre-se o risco de abrir um perigoso
precedente: por que outros Estados
em situação semelhante à do Rio não
poderiam reivindicar e contar com
igual apoio das Forças Armadas para
combater traficantes?
Texto Anterior: Editoriais: INSTABILIDADE FINANCEIRA Próximo Texto: Editoriais: EFEITOS DA TORTURA Índice
|