São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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EFEITOS DA TORTURA

Ainda não está de todo claro o impacto das terríveis imagens de soldados norte-americanos torturando detentos na prisão de Abu Ghraib, mas não há dúvida de que a autoridade de Washington no Iraque fica severamente abalada, inclusive no que diz respeito à definição do futuro político do país.
O efeito mais previsível dessa crise pode até ser interpretado como positivo: a ONU fica mais forte. A capacidade da Casa Branca de ditar as regras do jogo e de impor limites à soberania do governo provisório -que deve ser indicado pelas Nações Unidas e assumir no dia 30 de junho- reduziu-se após a divulgação dos episódios de maus-tratos.
Esse, contudo, é apenas uma das conseqüências possíveis. É bastante verossímil, por exemplo, que mais iraquianos se alistem como membros da resistência e que pessoas hoje trabalhando em instituições vistas como pró-americanas (polícia, Exército etc.) reconsiderem sua situação. Se já era difícil para as forças da coalizão controlar os muitos focos de insurgência no país, depois dos casos de tortura essa tarefa se torna ainda mais complicada.
Não se deve também subestimar o impacto das fotografias sobre o mundo árabe. A população dos países da região, já predisposta a acreditar que os EUA não são confiáveis, vê nas imagens de Abu Ghraib a prova material que confirma suas piores suspeitas. Será uma tarefa árdua para os EUA fazer com que a sua imagem entre os árabes retorne ao que era antes das fotos -situação que, aliás, já não podia ser considerada boa.
No plano interno, a condição do presidente George W. Bush não é muito melhor. Ele vem sofrendo pressões para demitir seu secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, além de perder popularidade a seis meses da eleição. Ironicamente, o desgaste ocorre quando a economia, que parecia seu calcanhar-de-aquiles, vai produzindo boas notícias.


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