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EFEITOS DA TORTURA
Ainda não está de todo claro o
impacto das terríveis imagens
de soldados norte-americanos torturando detentos na prisão de Abu
Ghraib, mas não há dúvida de que a
autoridade de Washington no Iraque
fica severamente abalada, inclusive
no que diz respeito à definição do futuro político do país.
O efeito mais previsível dessa crise
pode até ser interpretado como positivo: a ONU fica mais forte. A capacidade da Casa Branca de ditar as regras do jogo e de impor limites à soberania do governo provisório -que
deve ser indicado pelas Nações Unidas e assumir no dia 30 de junho-
reduziu-se após a divulgação dos
episódios de maus-tratos.
Esse, contudo, é apenas uma das
conseqüências possíveis. É bastante
verossímil, por exemplo, que mais
iraquianos se alistem como membros da resistência e que pessoas hoje trabalhando em instituições vistas
como pró-americanas (polícia, Exército etc.) reconsiderem sua situação.
Se já era difícil para as forças da coalizão controlar os muitos focos de insurgência no país, depois dos casos
de tortura essa tarefa se torna ainda
mais complicada.
Não se deve também subestimar o
impacto das fotografias sobre o
mundo árabe. A população dos países da região, já predisposta a acreditar que os EUA não são confiáveis, vê
nas imagens de Abu Ghraib a prova
material que confirma suas piores
suspeitas. Será uma tarefa árdua para
os EUA fazer com que a sua imagem
entre os árabes retorne ao que era antes das fotos -situação que, aliás, já
não podia ser considerada boa.
No plano interno, a condição do
presidente George W. Bush não é
muito melhor. Ele vem sofrendo
pressões para demitir seu secretário
de Defesa, Donald Rumsfeld, além
de perder popularidade a seis meses
da eleição. Ironicamente, o desgaste
ocorre quando a economia, que parecia seu calcanhar-de-aquiles, vai
produzindo boas notícias.
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