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CARLOS HEITOR CONY
Piada do destino
RIO DE JANEIRO - Destino é destino, e nem é preciso lembrar o caso de
Édipo para saber que não se deve saber o que ele nos reserva. Pulando de
Tebas para Garanhuns, do rei Édipo
para o presidente Lula, podemos
acompanhar o destino de dois personagens, um deles trágico, o outro
mais ou menos cômico.
É possível que Lula nunca tenha
consultado um oráculo, mas, se o fez,
não deve ter acreditado nele. Como
imaginar que o retirante nordestino
chegaria à Presidência da República?
É bem verdade que houve antecedentes ao longo da história, pessoas de
origem humilde que chegaram lá.
Até aí, é possível que Lula, embora
achando difícil, desconfiasse que,
com um pouco de sorte e muito jeitinho, poderia dar a volta por cima.
Se, aos 16, 17 anos, um vidente lhe
profetizasse que chegaria ao topo, é
possível que Lula, embora achando
muita cocada para ele, no fundo no
fundo se perguntasse: "Por que
não?".
Mas nenhum vidente, nem em Tebas, nem em Garanhuns, poderia
prever que ele teria de perder tempo e
prestígio por causa dos bingos. Sua
carreira política foi feita em defesa de
causas nobres: emprego, salário, saúde, justiça social, solidariedade humana, essas coisas.
De repente, passa mais de uma semana reunindo-se até altas horas da
noite com os funcionários mais graduados do governo para encontrar
um jeito de fechar bingos! Acredito
que ao longo de sua vida, de sua liderança popular, de seu ideário político, ele nunca tenha pensado em bingo, a não ser como lazer pessoal, para
relaxar de suas lutas sindicais, um
joguinho inocente com amigos e parentes, na base do grãozinho de milho quando não houvesse fichas para
todos.
De repente -é bom que repita o de
repente-, fechar ou abrir bingos
torna-se agenda prioritária do Partido dos Trabalhadores. Depois dos
bingos, o governo jogará tudo para
disciplinar as brigas de galo.
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