VIENA - A carta que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmedinejad, enviou a seu colega George Walker Bush é assustadora -pela carga religiosa (e fundamentalista) que contém. Exemplo do que parece a tese central: "Nós acreditamos que um retorno aos ensinamentos dos divinos profetas é o único caminho que leva à salvação".
Se estamos falando da vida pessoal, é até possível, conforme a crença de cada qual. Mas não há sinais de que os profetas tenham ensinado o caminho para a construção política e social do mundo, ao menos não de uma forma que mortais comuns possam entendê-la e praticá-la.
Ahmedinejad parte de uma pressuposição que será violentamente contestada. Diz a Bush: "O liberalismo e a democracia ao estilo ocidental não foram capazes de ajudar a realizar os ideais da humanidade".
Todos os autoritários gostam de vergastar a "democracia ao estilo ocidental". Imperfeita, como toda obra humana, não se criou outra que mereça o rótulo de democracia.
Já os fundamentalistas da economia dirão que tampouco há outro modelo econômico que funcione. Realmente não está à vista, mas nem por isso é prudente ignorar os sinais de que o paraíso está excluindo grande e até crescente número de pessoas, inclusive nos Estados Unidos.
Dados recentes mostram que:
1 - O risco de uma família norte-americana cair abaixo da linha da pobreza e aí permanecer por pelo menos um ano aumentou consideravelmente nos anos 90 na comparação com as duas décadas precedentes. É bom lembrar que os 90 foram de extraordinária expansão econômica.
2 - Os EUA têm a mais alta taxa de mortalidade de recém-nascidos entre 33 países desenvolvidos examinados pela ONG Save the Children (cinco a cada mil), exceto a Letônia, e no mesmo patamar de Malta, Hungria e Polônia (os dois últimos ex-comunistas e, portanto, fracassados).
Pode não ser culpa do "liberalismo", mas não parece estar contribuindo para "os ideais da humanidade", se é que ela os tem.

@ - crossi@uol.com.br


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