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CARLOS HEITOR CONY
A verdade que falta
RIO DE JANEIRO - Leio no Josias de Souza que José Dirceu recebeu de Lula a missão de controlar Delúbio Soares e Silvio Pereira, os dois dirigentes
do partido que sabiam da coisa e,
mais do que sabiam, administravam-na. Com outras tarefas importantes a cumprir, Dirceu não controlou devidamente um deles (Silvio),
que botou a boca no trombone, mas
nem tanto, e fez algum estrago com
suas recentes declarações.
Há ainda um amigo comum dos
três (Dirceu, Delúbio e Silvio) que é
também ligado a Lula. Em gíria de
hoje, seria esse o chassi da blindagem
em torno do presidente. Apesar do estrago feito por Silvio, o tsunami não
chegou a atingir Lula pessoalmente.
Mas todo o cuidado é pouco.
Apelando para a história recente,
os casos de Collor e de Palocci, quem
rasgou a fantasia deles não foram os
auxiliares graúdos. Foi o escalão de
baixo, um motorista, no caso de Collor, e um caseiro, no caso de Palocci.
Mesmo sem a fiscalização de Dirceu (ele próprio um potencial desmancha-prazeres para Lula), a coisa
só ficará preta para o presidente
quando um motorista, um faxineiro,
um auxiliar de jardinagem do Torto,
por qualquer motivo, ou mesmo sem
qualquer motivo, for descoberto ou se
descobrir e trazer um fato novo para
o grande bolo preparado pelo PT e
pelo governo. Bolo que está sendo comido pelas beiras, estranhamente
transformado em pizza em alguns
pedaços, mas cuja consistência não
foi ainda afetada.
É evidente que um destempero de
Delúbio será mais devastador do que
o de Silvio. E o de Dirceu, aliás improvável, também fará estragos consideráveis na figura já bastante estragada do presidente, que permanece
oficialmente incólume e marchando
em largas passadas para a reeleição
quase garantida.
É possível que cheguemos a outubro
sem que apareça esse motorista, esse
faxineiro ou ajudante de jardinagem
do Torto. Sorte de Lula, que terá mais
tempo disponível para ajudar a combater a pobreza na Bolívia.
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