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CLÓVIS ROSSI
Deslumbramento explícito
PARIS - A notícia colhida pelo excelente repórter que é Guilherme Barros, segundo a qual os empresários vão pagar a reforma do Palácio da
Alvorada, é todo um compêndio sobre a política brasileira.
Ensina muito, por exemplo, sobre a
cabeça de uma fatia ponderável dos
homens de negócio. Não parece fazer
parte da missão social do empresariado cuidar do conforto do presidente da República.
Mas é útil mantê-lo ocupado com o
deslumbramento com o poder, para
não correr o menor risco de que lhe
venha alguma idéia que fira os interesses dos privilegiados.
Esse processo faz parte do que o jornalista argentino Horácio Verbitsky
chamou, em pedagógico livro, de "La
Educación Presidencial".
Quanto ao próprio Lula, fica clara
a troca de prioridades. Antes, sua
missão na vida, segundo ele próprio,
era fazer com que cada brasileiro pudesse ter direito a três refeições diárias. Agora, é um avião novo para a
Presidência da República e um palácio mais confortável.
Claro que ninguém está propondo
que Lula se mude para a Rocinha,
para a favela do Buraco Quente, em
São Paulo, nem mesmo para Taguatinga, cidade-satélite de Brasília.
Não que lhe fizesse mal, necessariamente. No mínimo ficaria livre do
bando de puxa-sacos que cerca e isola todo presidente, em todos os cantos
do planeta. A maioria só sobrevive
nas condições de temperatura e pressão dos palácios.
Feita essa ressalva fundamental,
parece evidente que, de todas as preocupações que deveriam povoar a cabeça do presidente, certamente a última delas seria a reforma do Alvorada. Ao levar empresários para um
tour pelos banheiros para ver encanamentos danificados ou velhos, Lula mostra claramente onde é que está
com a cabeça.
Ainda há tempo, no entanto. Na
hora em que o empresariado levar o
cheque da reforma, o presidente talvez se lembre de que há incontáveis
escolas, hospitais e delegacias, país
afora, em condições bastante mais
insalubres. Talvez.
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