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IGOR GIELOW
Cotas patrulhadas
BRASÍLIA - Cornel West era o mais badalado acadêmico negro dos Estados Unidos. Chefiava o Departamento de Estudos Afro-Americanos na
mítica Universidade Harvard.
No fim de 2001, ouviu do chefão de
Harvard, o polêmico conservador
Larry Summers, um questionamento. Estaria dedicando mais tempo à
autopromoção em nome da causa
negra do que a seus alunos -os
quais, disse Summers, pareciam receber notas mais altas apenas por serem negros.
West é pop. Gravou um CD de rap e
acabou virando conselheiro dos irmãos Wachowski, de ""Matrix" (até
ganhou uma ponta no malogrado segundo filme da série). Mesmo com a
retratação de Summers, alegou preconceito e foi para a rival Princeton
meio desacreditado. Na esteira, deixou meses de debate sobre o efeito do
politicamente correto na academia.
Aqui no Brasil, para variar, estamos atrasados. Décadas depois de os
americanos inventarem a ação afirmativa para reduzir o impacto que a
segregação oficial teve nas escolas, algo que agora vêm abandonando, a
Universidade de Brasília resolveu
adotar regime de cotas para negros.
Ataca o racismo criando injustiça.
Sem cotas, o curso de medicina teria
66,39 candidatos por vaga. Com elas,
a concorrência cai pela metade para
o cotista. Fica difícil explicar para os
outros, que passam a enfrentar uma
taxa de 82,41 inscritos/vaga, que é tudo culpa do passado escravocrata.
Para piorar, a UnB criou uma abominação na seleção. Um conselho
examina fotografias para decidir
quem é elegível às cotas. Subjetividade pura, como mostraram os rostos
dos aprovados estampados na imprensa. E introduziu proselitismo na
escolha: perguntou aos rejeitados que
apresentaram recurso se eles já haviam militado no movimento negro.
Na banca, gente da UnB e de grupos
militantes negros. Desde quando militância é parâmetro para definir algo tão complexo como raça?
Virou patrulhamento ideológico
travestido de justiça social. Se algo
der errado em Princeton, West já sabe onde pode procurar emprego.
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