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CLÓVIS ROSSI
A inércia é má conselheira
SÃO PAULO - Dois dos indicadores de recente divulgação apontam
em direções contrárias: o tal índice
DI da inflação (para que servem, a
propósito, tantos índices inflacionários?) sugere que o Banco Central deveria aumentar os juros, porque os preços estão subindo em um
ritmo mais forte. Mas o crescimento da economia no primeiro trimestre sugere o contrário, posto que a
economia mostra-se algo menos
anabolizada.
Subir os juros representa o risco
de acelerar a desaceleração. No entanto, parece evidente que o BC vai
mesmo aumentar de novo os juros.
É coerente com a sua obsessão única, o controle da inflação. Não
adianta economistas do próprio governo, como João Sicsú (Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas), defenderem a tese de que o BC
deveria ter também metas de crescimento e metas sociais.
É sempre bom lembrar que o
Fed, o banco central norte-americano, tão macaqueado, tem duas
metas: defender, sim, a estabilidade, mas defender igualmente o nível de atividade da economia.
Aqui, não. Além do instinto básico do BC, o instinto político do presidente da República trabalha pelo
foco central na inflação. Fácil de entender: só especialistas se preocupam com o PIB; os mortais comuns
incomodam-se com o desemprego,
ou a ameaça dele, e o poder de compra. Até que um e/ou o outro fantasma apareçam no horizonte, falta
muito (ou tudo).
Já a inflação está aí, à vista de todos, especialmente na alimentação,
que consome a maior fatia da renda
dos mais pobres. O que complica as
coisas é que dificilmente o aumento
dos juros afetará esse tipo de preço
porque, com dinheiro mais caro ou
mais barato, ninguém pode deixar
de comer.
Tampouco afetará o preço do petróleo e seus efeitos. O mundo moderno é complexo demais para movimentos automáticos como os que
o BC prepara ou já fez.
crossi@uol.com.br
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