São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

A inércia é má conselheira

SÃO PAULO - Dois dos indicadores de recente divulgação apontam em direções contrárias: o tal índice DI da inflação (para que servem, a propósito, tantos índices inflacionários?) sugere que o Banco Central deveria aumentar os juros, porque os preços estão subindo em um ritmo mais forte. Mas o crescimento da economia no primeiro trimestre sugere o contrário, posto que a economia mostra-se algo menos anabolizada.
Subir os juros representa o risco de acelerar a desaceleração. No entanto, parece evidente que o BC vai mesmo aumentar de novo os juros.
É coerente com a sua obsessão única, o controle da inflação. Não adianta economistas do próprio governo, como João Sicsú (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), defenderem a tese de que o BC deveria ter também metas de crescimento e metas sociais.
É sempre bom lembrar que o Fed, o banco central norte-americano, tão macaqueado, tem duas metas: defender, sim, a estabilidade, mas defender igualmente o nível de atividade da economia. Aqui, não. Além do instinto básico do BC, o instinto político do presidente da República trabalha pelo foco central na inflação. Fácil de entender: só especialistas se preocupam com o PIB; os mortais comuns incomodam-se com o desemprego, ou a ameaça dele, e o poder de compra. Até que um e/ou o outro fantasma apareçam no horizonte, falta muito (ou tudo).
Já a inflação está aí, à vista de todos, especialmente na alimentação, que consome a maior fatia da renda dos mais pobres. O que complica as coisas é que dificilmente o aumento dos juros afetará esse tipo de preço porque, com dinheiro mais caro ou mais barato, ninguém pode deixar de comer.
Tampouco afetará o preço do petróleo e seus efeitos. O mundo moderno é complexo demais para movimentos automáticos como os que o BC prepara ou já fez.


crossi@uol.com.br

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