São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Luiz Ignacio

SÃO PAULO - É mais do que coincidência o fato de chamar-se Luiz Ignacio o mais recente brasileiro a morrer na tentativa de entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
A história de Ricardo Luiz Ignacio, 31, e dos demais presos ou mortos em tentativas similares é a história do fracasso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Não sou eu quem o diz, mas a mulher de Luiz Ignacio, Sílvia Cristina da Silva: "O governo tem de dar é emprego. Entra governo, sai governo, e nada muda. Está cada vez pior", queixou-se à Folha.
Os números da emigração ilegal também contam a mesma história. Conforme levantamento feito dias atrás por Rafael Cariello, em 2002, último ano do governo Fernando Henrique, 2.946 brasileiros foram detidos pela polícia norte-americana de fronteiras. No ano seguinte, primeiro do governo Lula, o número aumentou 70%, passando para 5.008. A fuga do Brasil continua neste ano: até a terceira semana de junho, 4.401 brasileiros foram detidos.
O PT (ou Duda Mendonça) vendeu a tese, ao ganhar a eleição de 2002, de que a esperança vencera o medo. É a mais pura verdade, vê-se agora: a esperança de ter uma vida melhor longe do Brasil venceu o medo de enfrentar uma travessia tão perigosa que, só nos últimos 36 dias, causou a morte de três brasileiros.
Emigrar é, obviamente, uma decisão penosa. Só a toma ou quem é forçado por motivos políticos, como ocorreu nos anos de chumbo, ou quem perdeu toda a esperança na terra de origem.
O número de brasileiros que se enquadram nesta segunda descrição é recorde hoje em dia. De terra de acolhida, o Brasil transformou-se em terra da desesperança.
Seria obviamente pedir demais que o governo Lula, em 18 meses, devolvesse ao Brasil todos seus encantos. O seu fracasso não é esse, ainda. O fracasso está em que não foi capaz de pôr a esperança no horizonte do brasileiro. "Está cada vez pior", como constata a viúva de Luiz Ignacio.



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