São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Autodefesa

BRASÍLIA - Cristalizou-se na cúpula do governo a sensação de que o embaixador José Viegas sai do Ministério da Defesa por uma porta e Aldo Rebelo entra por outra.
Há, porém, duas considerações: 1) Lula escolheu pessoalmente Viegas, a quem conheceu na década de 80, na embaixada brasileira em Cuba; 2) Ninguém atribui a Viegas ato ilícito ou escândalo. Fala-se ora em "falta de força política", ora em "falta de autoridade".
Uma conjunção de fatores pesa contra o ministro. Começa pela pressão dos comandos e da caserna para aumentar os soldos e iniciar o processo de renovação de aviões, barcos e armas, tudo caindo aos pedaços.
E continua com o mal-estar pela contratação sem licitação de um amigo da FGV para repensar a administração das Forças; a destinação de caminhonetes novinhas para a mulher e as filhas; a reforma de uma casa da Aeronáutica. No Itamaraty, seriam "peanuts" (amendoins, bobagem). Nos quartéis, questão de "austeridade".
Estava escrito nas quatro estrelas: o choque de cultura entre militares e diplomatas. Uns devem ser diretos, quase rudes. Outros têm de ser sutis, quase dissimulados. As diferenças estendem-se às esposas. Umas não aparecem nunca. As outras, quanto mais aparecem, melhor.
O Planalto discute uma espécie de pacote: o aumento do soldo em duas etapas, sendo a primeira até 25 de agosto, "dia do soldado", e um plano de reequipamento de longo prazo.
Quanto mais adiante, menos impacto nas contas deste ano. Mas tem de ser logo. Antes que o deputado Jair Bolsonaro (porta-voz da reserva e da direita militar) fique com os louros pelo aumento dos soldos. E ACM, com os louros pelo reequipamento.
Quanto a Viegas, seu destino está entrelaçado com o de outros ministros, como Humberto Costa (Saúde). Mas Lula, além de ser leal aos amigos, tem um outro problema: tirar um diplomata e botar um deputado comunista para comandar generais, almirantes e brigadeiros?
Não seria trocar seis por meia dúzia. Mas um problema por outro.


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