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LÍNGUA PRESA
É assaz reprochável, para dizer
o mínimo, a horda de neologismos que tomou de assalto a língua
portuguesa. Não se pode mais nem
mesmo ir a um shopping center sem
encontrar "sales" e "offs" no lugar de
liquidações e descontos. Não se toma mais um cafezinho, mas se faz
um "coffee break". Pior ainda é
quando alguém se vê obrigado a
"ressetar" o seu computador, por
conta de um "bug" no "software", e
não consegue "forwardar" um "e-mail" urgente nem acessar o seu
"personal banking".
Qualquer um que aprecie um bom
autor de língua portuguesa tem ganas de deletar essas expressões do
idioma. O pior caminho para fazê-lo
é o projeto do deputado Aldo Rebelo
(PC do B-SP), aprovado anteontem
pela Comissão de Educação da Câmara, que poderá estabelecer multas
para quem empregar "palavra ou expressão estrangeira" que tenha equivalente em língua portuguesa.
A proposta é digna de figurar numa
comédia surrealista. Pelo artigo 3º, é
obrigatório o uso da língua portuguesa por brasileiros, natos e naturalizados, e estrangeiros residentes no
país há mais de um ano.
Para ser consequente com o projeto, far-se-ia necessária a criação de
brigadas linguísticas, encarregadas
de dar fiel cumprimento aos dispositivos legais. Os mui diligentes fiscais
do Lácio, munidos de sólida formação filológica, resgatariam o idioma
de Camões das trevas imperialistas
que o ameaçam. À imortal ABL, agora dispondo de poder discricionário,
caberia definir o "Volksgeist" e dar-lhe expressão vernacular.
O português já experimentou outras invasões, notadamente a dos galicismos, e sobreviveu. Na verdade,
saiu enriquecido, como às vezes
ocorre quando culturas se encontram. Aliás, se não houvesse essa dinâmica de influências, o português
nem existiria. O idioma pátrio ainda
seria o proto-indo-europeu.
Ainda não inventaram uma forma
de fazer as pessoas terem bom gosto
por força de lei. Diante do óbvio, faria melhor o Congresso se direcionasse seus esforços para fins mais
úteis, como elevar o nível do ensino
ministrado nas escolas.
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