São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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CLÓVIS ROSSI

De podridão e culpas

LONDRES - Em entrevista à Globonews, o presidente Fernando Henrique Cardoso queixou-se das acusações feitas ao governo. Segundo o jornal "O Globo", FHC teria dito que "a acusação parada pela metade" compromete a consolidação da democracia.
O presidente está invertendo completamente o sentido das coisas. Não há "acusações paradas pela metade", mas investigações que nem chegam à metade do percurso exatamente porque o governo não mostrou até agora interesse em chegar às últimas consequências em qualquer um dos casos denunciados.
Mesmo no episódio que mais indigna -e com razão- o presidente (o do papelório que se intitulou "dossiê Cayman"), o governo não demonstrou maior empenho em descobrir e depois punir os responsáveis pelo que parece ser uma montagem (a de que FHC e mais três outros altos próceres tucanos teriam uma conta nesse paraíso fiscal do Caribe).
Quem montou o papelório não foram nem membros da oposição nem representantes do Ministério Público, erigidos em novos inimigos do Planalto. São figuras ligadas direta ou indiretamente ao esquema de sustentação do governo FHC. Talvez por isso não interesse chegar às últimas consequências, o que só prova que a indignação do presidente é seletiva.
Dirige-se aos que não colaboram com o governo, o que, de resto, é um direito inalienável da oposição e até um dever do Ministério Público, que, como diz o nome, está aí para defender o público, não o governo.
Num ponto, no entanto, o presidente tem razão. É quando diz que as denúncias acabam passando para o distinto público a sensação de "tudo é podridão".
De fato, é isso que está ocorrendo. Mas a culpa não é apenas nem principalmente das denúncias, mas da falta de interesse do próprio governo em apurar em profundidade todos os episódios turvos ocorridos nos últimos anos.


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