São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Pobre argumento

SÃO PAULO - O argumento mais repetido em defesa do tal CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) diz que existem conselhos similares para advogados, médicos e outros profissionais e, portanto, deve haver também para jornalistas. Pena que nenhum dos que usam o argumento parou para examinar se os conselhos similares ao CFJ produziram bons efeitos.
Não é preciso muita esperteza para perceber que os resultados não são bons, para dizer o menos. No caso dos advogados, basta lembrar que a grande maioria dos formados não passa no Exame da Ordem, o que significa que as escolas estão despejando no mercado profissionais com imenso déficit de formação.
Pior ainda: alguém aí é capaz de dizer que a administração de justiça no Brasil é minimamente eficiente, elogiável, louvável? Ou, posto de outra forma, a existência de um conselho semelhante ao proposto CFJ nem chegou perto de defender a sociedade no seu direito à justiça.
No caso dos médicos, já está entrando em debate a criação de um exame similar ao feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, o que evidencia que há desconfianças também em relação à qualidade da formação desses profissionais.
E, de novo, é escandalosamente óbvio que o direito à saúde não é exatamente uma característica do Brasil. Ou, posto de outra forma, a sociedade não está sendo defendida pelo fato de existir um conselho que supervisiona os médicos.
Seria preciso um grau de presunção fenomenal para supor que, no caso do jornalismo, o CFJ faria o que os conselhos das outras profissões não fizeram ou, no mínimo, não puderam evitar.
Tanto quanto o direito à saúde ou à justiça, o direito a uma informação veraz só será alcançado se e quando a própria sociedade for vigorosamente atrás de cada um deles.
Estruturas burocrático-corporativas podem até ter a melhor das intenções, mas os fatos provam que não defendem nem os profissionais nem a sociedade.


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