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CLÓVIS ROSSI
Pobre argumento
SÃO PAULO - O argumento mais repetido em defesa do tal CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) diz que
existem conselhos similares para advogados, médicos e outros profissionais e, portanto, deve haver também
para jornalistas. Pena que nenhum
dos que usam o argumento parou para examinar se os conselhos similares
ao CFJ produziram bons efeitos.
Não é preciso muita esperteza para
perceber que os resultados não são
bons, para dizer o menos. No caso dos
advogados, basta lembrar que a
grande maioria dos formados não
passa no Exame da Ordem, o que significa que as escolas estão despejando
no mercado profissionais com imenso déficit de formação.
Pior ainda: alguém aí é capaz de dizer que a administração de justiça no
Brasil é minimamente eficiente, elogiável, louvável? Ou, posto de outra
forma, a existência de um conselho
semelhante ao proposto CFJ nem chegou perto de defender a sociedade no
seu direito à justiça.
No caso dos médicos, já está entrando em debate a criação de um
exame similar ao feito pela Ordem
dos Advogados do Brasil, o que evidencia que há desconfianças também
em relação à qualidade da formação
desses profissionais.
E, de novo, é escandalosamente óbvio que o direito à saúde não é exatamente uma característica do Brasil.
Ou, posto de outra forma, a sociedade não está sendo defendida pelo fato
de existir um conselho que supervisiona os médicos.
Seria preciso um grau de presunção
fenomenal para supor que, no caso
do jornalismo, o CFJ faria o que os
conselhos das outras profissões não
fizeram ou, no mínimo, não puderam evitar.
Tanto quanto o direito à saúde ou à
justiça, o direito a uma informação
veraz só será alcançado se e quando a
própria sociedade for vigorosamente
atrás de cada um deles.
Estruturas burocrático-corporativas podem até ter a melhor das intenções, mas os fatos provam que não
defendem nem os profissionais nem a
sociedade.
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