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CARLOS HEITOR CONY
Baixando o sarrafo
RIO DE JANEIRO - Quando iniciei minha participação neste canto de página, em 1993, atraí a cólera de alguns petistas ao atribuir a certos militantes a tendência de se apoderar
do Estado para fins de impor uma regime bem próximo do ditatorial
-no pressuposto de serem eles donos
absolutos da melhor maneira de administrar a sociedade.
Para uso interno, o PT talvez seja o
partido mais democrático de nossa
história, democrático pelo menos na
aparência, com o assembleísmo circunstancial fazendo às vezes de vontade da maioria permanente.
Atraí também a simpatia de alguns
membros do PT, pois, durante os oito
anos de governo tucano, defendia a
maioria dos ideais petistas e atacava
quase diariamente o governo de
FHC.
Sem dar a mínima bola para a cólera e a simpatia, acrescento a essa pretensão ditatorial do PT o fato mais
recente, que é o Conselho Federal de
Jornalismo, destinado a ensinar como se faz a imprensa, quem pode ou
não pode integrar as diversas mídias.
Não se trata de uma volta aos tempos do Dip do Estado Novo nem da
censura do regime militar. Tanto o
Dip como a censura dos diversos atos
institucionais, de 1964 em diante,
proibiam certos assuntos, na marra.
Não se podia mencionar o nome de
dom Hélder Câmara nem informar
que havia um surto de meningite. E
pronto.
O Conselho de Jornalismo agora
proposto é mais nocivo, é letal. Procura ensinar, exercer uma didática para a qual não terá competência técnica nem mandato legal.
O país tem uma Constituição, tem
leis que regulamentam e punem abusos da mídia. Certas ou erradas, elas
estão em vigor e, volta e meia, um órgão ou um profissional pagam o pato, nem sempre merecidamente.
O Conselho Federal de Jornalismo
fará o Brasil mais uma vez cair no ridículo diante dos países que se consideram democráticos. Ficará alinhado com aqueles que precisam de conselhos do próprio governo para baixar o sarrafo.
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