São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Baixando o sarrafo

RIO DE JANEIRO - Quando iniciei minha participação neste canto de página, em 1993, atraí a cólera de alguns petistas ao atribuir a certos militantes a tendência de se apoderar do Estado para fins de impor uma regime bem próximo do ditatorial -no pressuposto de serem eles donos absolutos da melhor maneira de administrar a sociedade.
Para uso interno, o PT talvez seja o partido mais democrático de nossa história, democrático pelo menos na aparência, com o assembleísmo circunstancial fazendo às vezes de vontade da maioria permanente.
Atraí também a simpatia de alguns membros do PT, pois, durante os oito anos de governo tucano, defendia a maioria dos ideais petistas e atacava quase diariamente o governo de FHC.
Sem dar a mínima bola para a cólera e a simpatia, acrescento a essa pretensão ditatorial do PT o fato mais recente, que é o Conselho Federal de Jornalismo, destinado a ensinar como se faz a imprensa, quem pode ou não pode integrar as diversas mídias.
Não se trata de uma volta aos tempos do Dip do Estado Novo nem da censura do regime militar. Tanto o Dip como a censura dos diversos atos institucionais, de 1964 em diante, proibiam certos assuntos, na marra. Não se podia mencionar o nome de dom Hélder Câmara nem informar que havia um surto de meningite. E pronto.
O Conselho de Jornalismo agora proposto é mais nocivo, é letal. Procura ensinar, exercer uma didática para a qual não terá competência técnica nem mandato legal.
O país tem uma Constituição, tem leis que regulamentam e punem abusos da mídia. Certas ou erradas, elas estão em vigor e, volta e meia, um órgão ou um profissional pagam o pato, nem sempre merecidamente.
O Conselho Federal de Jornalismo fará o Brasil mais uma vez cair no ridículo diante dos países que se consideram democráticos. Ficará alinhado com aqueles que precisam de conselhos do próprio governo para baixar o sarrafo.


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