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ELIANE CANTANHÊDE
A sina de Alagoas
BRASÍLIA - Ao sentar amanhã no
banco dos réus, Renan Calheiros
estará escrevendo mais um triste
capítulo na história de Alagoas, Estado lindo, com povo acolhedor e
políticos fortes, mas afundado em
escândalos de roubos e de mortes,
enquanto disputa recordes de miséria com Maranhão e Piauí.
Alagoas deu ao Brasil o primeiro e
o segundo presidente da República,
Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, o primeiro eleito depois da ditadura militar, Fernando Collor de
Mello, e a primeira candidata mulher ao cargo, Heloísa Helena. Na
legislatura passada, tinha os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo, e
do Senado, o próprio Renan.
Como pode um Estado ter tanto
espaço na política nacional e tanta
miséria na política local? Como puderam Deodoro, Floriano, Collor,
Heloísa, Aldo e Renan sair da obscura Alagoas e ganhar tanto lugar
ao sol? Como podem alguns manchar esse mérito? E como podem
todos conquistar brilho próprio e
deixar Alagoas no escuro?
Deodoro proclamou a República,
foi eleito indiretamente e acabou
renunciando, sob forte crise. Floriano articulou contra o conterrâneo e antecessor. Collor ainda está
fresco na nossa memória -aliás, está aí, senador licenciado. Heloísa
perdeu a eleição presidencial, não a
liderança no PSOL. Aldo mantém a
biografia intocável, mas já teve bem
mais poder. E Renan?
A pobreza da infância, o jeito
"hippie" da adolescência e os sonhos do ex-militante do PC do B
evaporaram com o sucesso na política e nos negócios. A guerra entre a
imagem e a opinião pública ele já
perdeu, há muito, sem volta. Mas a
guerra de amanhã é outra, com armas mais afiadas: a política, a lábia,
os interesses -e o voto secreto.
Enquanto isso, o governador
Teotonio Vilela Filho continua insistindo no impossível: dar ordem
ao caos.
Ou, como se diz no Nordeste,
"dando murro em ponta de faca".
Pobre Alagoas, pobres alagoanos.
elianec@uol.com.br
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