|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Mentiras e indigência
SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 2002, Ciro Gomes
vinha subindo nas pesquisas até
enroscar-se na própria língua: começou a contar mentiras, rapidamente desmascaradas, e caiu até ficar atrás de Anthony Garotinho na
hora da contagem de votos.
Eram pequenas mentiras, como a
de jurar que estudara a vida inteira
em escolas públicas, o que se provou falso.
Mas parece que o eleitorado se
deu conta de quem conta pequenas
mentiras pode também contar
grandes mentiras e, por extensão, é
inconfiável para governar o país (ou
o que quer que seja).
Se os votantes aplicassem idêntico critério para os dois candidatos
remanescentes em 2006, o país ficaria sem presidente.
Afinal, como a Folha mostrou
ontem, tanto Luiz Inácio Lula da
Silva como Geraldo Alckmin contaram mentiras -e grandes mentiras, não as pequenas que desclassificaram Ciro há quatro anos.
A principal mentira diz respeito,
em ambos os casos, a crescimento
econômico, dado fundamental para
o pobre país tupiniquim. Lula "chutou" alto, bem de acordo com a megalomania que o caracteriza, ao dizer que nunca, nos últimos 20 anos,
o país crescera tanto. Falso, mostrou a Folha ontem. Alckmin disse
que São Paulo é que cresceu mais
que a média nacional. Igualmente
falso, como igualmente mostrou a
Folha ontem.
Digo que é a principal mentira
porque, se ambos estão satisfeitos
com o desempenho econômico do
país que um governa e do Estado
que o outro governou, estamos todos roubados.
Afinal, o crescimento da renda
per capita do Brasil no século 21 foi
de indigente 0,8% na média anual.
O século 21 dividiu-se igualmente
entre os irmãos-inimigos PT e
PSDB. Se ambos festejam a indigência, seria melhor mesmo que
ninguém se elegesse. O país talvez
caminhasse com mais garbo.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: A bomba prolifera
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Temores e ameaças Índice
|