São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Mentiras e indigência

SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 2002, Ciro Gomes vinha subindo nas pesquisas até enroscar-se na própria língua: começou a contar mentiras, rapidamente desmascaradas, e caiu até ficar atrás de Anthony Garotinho na hora da contagem de votos. Eram pequenas mentiras, como a de jurar que estudara a vida inteira em escolas públicas, o que se provou falso.
Mas parece que o eleitorado se deu conta de quem conta pequenas mentiras pode também contar grandes mentiras e, por extensão, é inconfiável para governar o país (ou o que quer que seja).
Se os votantes aplicassem idêntico critério para os dois candidatos remanescentes em 2006, o país ficaria sem presidente. Afinal, como a Folha mostrou ontem, tanto Luiz Inácio Lula da Silva como Geraldo Alckmin contaram mentiras -e grandes mentiras, não as pequenas que desclassificaram Ciro há quatro anos.
A principal mentira diz respeito, em ambos os casos, a crescimento econômico, dado fundamental para o pobre país tupiniquim. Lula "chutou" alto, bem de acordo com a megalomania que o caracteriza, ao dizer que nunca, nos últimos 20 anos, o país crescera tanto. Falso, mostrou a Folha ontem. Alckmin disse que São Paulo é que cresceu mais que a média nacional. Igualmente falso, como igualmente mostrou a Folha ontem.
Digo que é a principal mentira porque, se ambos estão satisfeitos com o desempenho econômico do país que um governa e do Estado que o outro governou, estamos todos roubados.
Afinal, o crescimento da renda per capita do Brasil no século 21 foi de indigente 0,8% na média anual. O século 21 dividiu-se igualmente entre os irmãos-inimigos PT e PSDB. Se ambos festejam a indigência, seria melhor mesmo que ninguém se elegesse. O país talvez caminhasse com mais garbo.


crossi@uol.com.br

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