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FERNANDO RODRIGUES
Temores e ameaças
BRASÍLIA - Até há um mês, os tucanos sapecavam em Lula a pecha
de autoritário potencial. O PT estaria preparando um autogolpe para
depois da eleição. Ai de quem discordasse. Era algo tão certo como as
estiagens de julho em Brasília.
O cenário se inverteu. A disputa
foi para o segundo turno. Agora, são
os lulo-petistas que enxergam um
futuro plúmbeo para a democracia
se a companheirada ficar de fora do
Palácio do Planalto nos próximos
quatro anos.
Articulado e inteligente, o ministro Ciro Gomes tem vocalizado a tese do momento. A história é simples. Se colar em Lula o rótulo de
corrupto e a reeleição for para o espaço, o Brasil ficará dividido. Muita
gente de boa-fé não aceitará a derrota por uma "maioriazinha relativa". O processo de representação
deixará de ser "crível". Ciro não fala
assim, mas sugere que, finalmente,
o Brasil poderá assistir ao "morro
descer até o asfalto".
Na linha argumentativa do PT,
por mais incompetente que seja a
estrutura do partido de Lula, não é
cabível que a reeleição seja perdida
por causa de um episódio estapafúrdio de "aloprados" comprando
um dossiê. Ao usar esse momento a
seu favor, Geraldo Alckmin estaria
fazendo um jogo sujo.
Tudo porque Lula não extrai de
seus companheiros de 30 anos uma
informação prosaica: de onde veio o
dinheiro para comprar o dossiê. É
surrealista dizer que a PF está investigando. Por que o presidente
não chama seus amigos e pergunta
sobre a origem dos recursos?
Meia dúzia de carreiras políticas
seriam implodidas. Mas, possivelmente, Lula poderia salvar-se. O
petista parece preferir sofrer até o
último minuto em troca de preservar algumas reputações. Talvez
porque a informação real possa
causar para ele mais danos do que o
incompreensível silêncio atual.
frodriguesbsb@uol.com.br
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