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FERNANDO RODRIGUES
O erro na política
BRASÍLIA - Lula tem 34 ministros. Desses, cerca de 20 podem
continuar. Entre os 14 que sobram,
mais da metade está na chamada
"cota pessoal" do presidente.
A rigor, Lula terá bem menos de
dez cadeiras para encaixar todos os
aliados indicados pelos partidos políticos governistas. É nítida a escassez de cargos para atender à demanda. O caldo entorna com o PT
desejando ficar do mesmo tamanho
-ou maior- na Esplanada.
Nesse ambiente, Lula corre risco
parecido ao do início de seu primeiro mandato. Errar na política.
Está em vigor no Planalto uma
crença segundo a qual a administração de Lula será eficaz a ponto de
unir o PMDB. Cada um tem o direito de acreditar no que bem entende.
Mas PMDB unido é igual a cabelo
azul: não existe na natureza.
Outra miragem habitual no imaginário do governo é ter "ministros
que garantam a votação das bancadas de seus partidos" no Congresso.
Poesia pura. O atual sistema político-partidário só funciona na base
das planilhas: de um lado, o nome
do deputado ou senador; do outro, a
lista de emendas parlamentares de
cada um.
É possível que em 2014 as legendas grandes realmente sejam cerca
de quatro. Será viável então uma
negociação institucional entre direções partidárias e Poder Executivo.
Hoje, é impossível.
Aceitar esse fato não significa
rendição ao fisiologismo. Basta liberar emendas decentes. Refugar
as dos sanguessugas. Simples. Mas
exige algo para o qual Lula e seus articuladores não demonstram apetite: trabalhar duro, ter paciência e
receber, individualmente, os 513
deputados e 81 senadores.
Só chamar os caciques não adianta. Na primeira crise, essa gente some e passa a ligar para os jornais reclamando que falta um articulador
político a Lula. E falta mesmo.
frodriguesbsb@uol.com.br
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