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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Homem de partido
SÃO PAULO - Depois que deixou o
poder -defenestrado da Casa Civil,
cassado pela Câmara no escândalo
do mensalão-, José Dirceu se tornou uma pessoa desimportante para o público. A quem iria interessar
a vida e os "combates na planície"
daquele que o ex-procurador-geral
da República colocou à testa de
uma organização criminosa?
Fora do poder, Dirceu, o socialista, poderia ter dedicado o tempo
ocioso e a experiência acumulada
àqueles que ainda lutam pela sua
causa. Não consta, porém, que tenha se convertido ao MST, participado de cooperativas agrícolas ou
se engajado no trabalho do próprio
governo com a economia solidária.
Na planície, o advogado Dirceu
preferiu ganhar a vida como "consultor". E se dedicou a um nicho
muito valorizado desse mercado
emergente: o das empresas com interesses nas decisões do governo ou
que têm negócios com o Estado.
Dirceu nunca deixou que sua vida
profissional um tanto esquiva o
afastasse do PT. Pelo contrário,
manteve vínculos com o partido,
onde é uma figura (talvez mais) idolatrada. Para muitos, "Zé é PT" de
uma maneira que Lula jamais foi.
Dirceu é, de fato, o artífice da conversão do PT, aquele que o transformou de veículo de massa em máquina de poder. A burocratização, a
realpolitik -tudo, enfim, que, com
Lula-lá, foi desembocar no mensalão tem ou teve a sua colaboração.
A recente eleição de José Eduardo Dutra para a presidência do partido representou uma vitória do
grupo de Dirceu. Ele aposta em Dilma Rousseff para voltar ao poder e,
como ela, vem tentando reescrever
a história ao dizer que "o PT não
desviou recurso público, o eleitorado sabe que não houve mensalão".
Talvez nem seja o caso de perder
tempo com esses panetones retóricos, que nada devem à fábula de Arruda. A diferença é que a farsa do
PT vem recheada com as frutas
cristalizadas do stalinismo. Mais
relevante é saber por que a esquerda -e qual esquerda- precisa desse
"bolchebusiness" para ser feliz.
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