São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2002

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NOTÍCIAS DE CARACAS

Simpatizantes do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, promoveram esta semana um cerco ao jornal "El Nacional", um dos principais do país. Na segunda-feira, uma manifestação, da qual participaram cerca de cem pessoas, impediu que os jornalistas deixassem a sede do diário, no centro de Caracas.
Enquanto a direção do jornal acusa o presidente de ter orquestrado a ação, numa tentativa de intimidar os críticos do governo, Chávez nega responsabilidade pelo protesto.
Não há elementos disponíveis para avaliar de forma independente a espontaneidade da iniciativa. É e se notar, no entanto, que a interpretação do órgão de imprensa faz sentido à luz do agressivo discurso do presidente contra a mídia local.
Em dezembro, no auge do locaute para protestar contra um pacote de medidas, Chávez anunciou que preparava uma lei para impor "a ética" aos meios de comunicação.
É notória a oposição sistemática que a imprensa venezuelana faz ao presidente. Tem sido assim desde que Chávez tomou posse, em 1999, eleito com a promessa de desencadear uma "revolução bolivariana".
Exemplo recente é o editorial "O ditador sem máscara", do próprio "Nacional", publicado esta semana.
Após o golpe fracassado em 1992, Chávez chegou ao poder pela urna. Embora não possa ser, tecnicamente, descrito como um ditador, tampouco lhe seria adequada a definição de entusiasta da democracia. Ainda amparado por popularidade, seu governo afronta as instituições.
Ao ameaçar a imprensa -seja incitando correligionários, seja propondo censura-, Chávez atinge mais uma estrutura da estabilidade constitucional. Já algo arriada, em algum momento ela pode vir ao chão, com prejuízo para toda a América Latina.


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