São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2002

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

E agora, José?

SÃO PAULO - Em política, diz-se, tudo é possível, mas seria mais fácil crer numa dobradinha de Batman e Robin do que apostar na viabilidade da chapa Serra-Itamar. O sonho de Antônio Ermírio soa anedótico, mas não só. Ao ressuscitar da tumba da República Velha a política do café-com-leite como opção de poder, o PIB do Sul maravilha rende homenagens à mentalidade dos coronéis.
Esdrúxula, a fórmula Batman-Robin para abater a Mulher-Gato alimenta a polarização do Sudeste rico contra o Nordeste injustiçado. Na querela das oligarquias, Roseana ainda pode posar de vítima das desigualdades regionais do país.
Serra tem um calvário pela frente. Joga contra ele o pragmatismo do PIB, tendencialmente tucano apenas até o momento em que perceber que Roseana é a única hipótese real de derrotar Lula e o PT. Joga também contra o ministro a "Realpolitik" de FHC, o primeiro-amigo, que não quer marola na aliança e deseja o PFL juntinho de si até o fim.
Sua atitude é politicamente coerente e coroa a opção pelo "centrão" conservador, embora seja melancólico ver o reinado tucano e tantas promessas reformistas desaguarem depois de oito anos no colo do clã Sarney. É o que se poderia chamar de política do "café-com-babaçu". FHC estudou muito e sabe como o Brasil repôs o atraso no curso de seus sucessivos surtos de modernização.
O "mainstream" tucano segue o príncipe. Quer reservar um tratamento cortês à governadora. Diga-se o que se quiser, Zé Aníbal e cia. não toleram Serra. Estão em atrito com o núcleo político do ministro, que gostaria de abrir logo as feridas do clã e explicitar ao país os reais compromissos da pefelândia. Há outro caminho?
O homem que indicou João Sayad a Marta Suplicy não faria má figura histórica se sinalizasse agora uma escolha efetiva pelo progressismo social, coisa que seu partido, o PSDB, deixou de representar quando, lá atrás, selou com uma mão um pacto com o sertão e cedeu com a outra ao canto de sereia da globalização.


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