São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

A diferença que não existe

BRASÍLIA - Um motivo apresentado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, para se lançar candidato a presidente da República pelo PMDB foi a suposta necessidade de diferenciar ideologicamente a corrida sucessória entre os partidos governistas.
"Temos de construir uma nova coalizão de centro-esquerda, que mantenha o comando do país. Não podemos ficar subordinados às forças liberais e de direita", disse ele.
Pelo axioma de Jungmann, o PFL é de direita. O PSDB e o PMDB não. Estão ali pelo centro e flertariam com a esquerda no espectro político. Admita-se que esse seja, de fato, o senso comum a respeito dessas siglas. Mas há muito a prática diária já fez dessas agremiações verdadeiros irmãos siameses na ideologia.
PSDB, PMDB e PFL votaram juntos todas as medidas liberalizantes do governo FHC. Com destaque para o PFL, sempre à frente do PMDB em termos de fidelidade às idéias propugnadas pelo fernandismo.
Passe-se então a uma análise dos quadros partidários. Nesse quesito, PSDB, PMDB e PFL se mimetizam ainda mais.
Jungmann diria que o PFL tem Antonio Carlos Magalhães. ACM retrucaria que o PMDB, partido do ministro, abriga Jader Barbalho. E todos devem reconhecer que, até outro dia, o PSDB dava guarida a José Ignácio, o controverso governador do Espírito Santo. Telhado de vidro é a especialidade dessa turma. Ninguém pode atirar a primeira pedra.
Também soa fora do lugar a tal preferência histórica dos tucanos pelo PMDB. É difícil esquecer o asco demonstrado por FHC, Covas e outros ao saírem dessa sigla para fundar o PSDB. Tanto que se aliaram ao PFL em 94. À época, nem se falava em aproximação com o PMDB.
É curiosa a motivação de Jungmann. Quis demonstrar incompatibilidade ideológica entre o PFL e os centro-esquerdistas (sic) PSDB e PMDB. A realidade, porém, prova haver muito mais similitude do que diferenças entre esses partidos.


Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: E agora, José?
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Gênero de vida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.