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FERNANDO RODRIGUES
A diferença que não existe
BRASÍLIA - Um motivo apresentado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, para se
lançar candidato a presidente da República pelo PMDB foi a suposta necessidade de diferenciar ideologicamente a corrida sucessória entre os
partidos governistas.
"Temos de construir uma nova coalizão de centro-esquerda, que mantenha o comando do país. Não podemos ficar subordinados às forças liberais e de direita", disse ele.
Pelo axioma de Jungmann, o PFL é
de direita. O PSDB e o PMDB não.
Estão ali pelo centro e flertariam com
a esquerda no espectro político. Admita-se que esse seja, de fato, o senso
comum a respeito dessas siglas. Mas
há muito a prática diária já fez dessas agremiações verdadeiros irmãos
siameses na ideologia.
PSDB, PMDB e PFL votaram juntos
todas as medidas liberalizantes do
governo FHC. Com destaque para o
PFL, sempre à frente do PMDB em
termos de fidelidade às idéias propugnadas pelo fernandismo.
Passe-se então a uma análise dos
quadros partidários. Nesse quesito,
PSDB, PMDB e PFL se mimetizam
ainda mais.
Jungmann diria que o PFL tem Antonio Carlos Magalhães. ACM retrucaria que o PMDB, partido do ministro, abriga Jader Barbalho. E todos
devem reconhecer que, até outro dia,
o PSDB dava guarida a José Ignácio,
o controverso governador do Espírito
Santo. Telhado de vidro é a especialidade dessa turma. Ninguém pode
atirar a primeira pedra.
Também soa fora do lugar a tal
preferência histórica dos tucanos pelo
PMDB. É difícil esquecer o asco demonstrado por FHC, Covas e outros
ao saírem dessa sigla para fundar o
PSDB. Tanto que se aliaram ao PFL
em 94. À época, nem se falava em
aproximação com o PMDB.
É curiosa a motivação de Jungmann. Quis demonstrar incompatibilidade ideológica entre o PFL e os
centro-esquerdistas (sic) PSDB e
PMDB. A realidade, porém, prova
haver muito mais similitude do que
diferenças entre esses partidos.
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