São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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A GRANDE FARSA

O Iraque foi invadido pelos EUA, e seu último líder, Saddam Hussein, foi deposto e preso. Esses são fatos históricos que ninguém pode contestar. A história, contudo, é muito mais do que uma sucessão de fatos escolhidos pelos que a escrevem. Ela encerra encadeamentos e processos complexos que só se tornam evidentes mediante interpretações. Daí que a tarefa do historiador pode ser descrita como apanhar os grandes fatos incontestes, buscar novas informações que ajudem a esclarecê-los e oferecer uma interpretação coerente.
Foi mais ou menos isso o que tentou fazer a Fundação Carnegie pela Paz Internacional, instituto de estudos internacionais de alta credibilidade sediado em Washington. A conclusão a que chegou está bem resumida na seguinte passagem de seu relatório: "As autoridades do governo [dos EUA] apresentaram sistematicamente de maneira inexata a ameaça das armas de destruição em massa e de mísseis balísticos iraquianos".
Num outro trecho, o documento afirma que o fato de que Saddam não representava ameaça iminente era "sabível" antes da guerra. Se quisermos, a fundação encontrou uma forma diplomática de dizer que a Casa Branca mentiu deliberada e repetidamente a respeito dos motivos que justificariam a operação militar.
O informe da Carnegie, a mais ampla revisão dos dados de inteligência disponíveis, também viu falhas nas tentativas de estabelecer um vínculo plausível entre o regime de Saddam e terroristas da rede Al Qaeda, ligação que a Casa Branca afirmava existir.
Saber o quanto o presidente George W. Bush e seus colaboradores manipularam dados para tentar justificar a guerra não vai mudar os destinos do Iraque e provavelmente nem os rumos da eleição presidencial norte-americana. Como os autores do relatório sugerem, ele é útil para prevenir que serviços de inteligência produzam informações de má qualidade, como foi o caso no Iraque. E pode ser valioso para que o futuro estabeleça uma versão relativamente fidedigna da Guerra do Iraque.



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