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A GRANDE FARSA
O Iraque foi invadido pelos
EUA, e seu último líder, Saddam Hussein, foi deposto e preso.
Esses são fatos históricos que ninguém pode contestar. A história,
contudo, é muito mais do que uma
sucessão de fatos escolhidos pelos
que a escrevem. Ela encerra encadeamentos e processos complexos que
só se tornam evidentes mediante interpretações. Daí que a tarefa do historiador pode ser descrita como apanhar os grandes fatos incontestes,
buscar novas informações que ajudem a esclarecê-los e oferecer uma
interpretação coerente.
Foi mais ou menos isso o que tentou fazer a Fundação Carnegie pela
Paz Internacional, instituto de estudos internacionais de alta credibilidade sediado em Washington. A
conclusão a que chegou está bem resumida na seguinte passagem de seu
relatório: "As autoridades do governo [dos EUA] apresentaram sistematicamente de maneira inexata a
ameaça das armas de destruição em
massa e de mísseis balísticos iraquianos".
Num outro trecho, o documento
afirma que o fato de que Saddam não
representava ameaça iminente era
"sabível" antes da guerra. Se quisermos, a fundação encontrou uma forma diplomática de dizer que a Casa
Branca mentiu deliberada e repetidamente a respeito dos motivos que
justificariam a operação militar.
O informe da Carnegie, a mais ampla revisão dos dados de inteligência
disponíveis, também viu falhas nas
tentativas de estabelecer um vínculo
plausível entre o regime de Saddam e
terroristas da rede Al Qaeda, ligação
que a Casa Branca afirmava existir.
Saber o quanto o presidente George W. Bush e seus colaboradores
manipularam dados para tentar justificar a guerra não vai mudar os destinos do Iraque e provavelmente nem
os rumos da eleição presidencial
norte-americana. Como os autores
do relatório sugerem, ele é útil para
prevenir que serviços de inteligência
produzam informações de má qualidade, como foi o caso no Iraque. E
pode ser valioso para que o futuro estabeleça uma versão relativamente fidedigna da Guerra do Iraque.
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