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GUSTAVO PATÚ
Política e políticas
BRASÍLIA - A língua inglesa tem duas palavras diferentes para o que
chamamos de política. "Politics" refere-se normalmente às estratégias para a conquista, a conservação e a divisão do poder. "Policy" diz respeito à
fixação de objetivos, iniciativas e planos de ação administrativa.
Exemplo: uma reforma ministerial
destinada fundamentalmente a acomodar o PMDB no governo e a redistribuir postos de comando entre o PT
e seus aliados será uma obra da política ("politics"); outra opção é uma
reforma que busque uma estrutura
de cargos e nomes mais adequada
para o cumprimento de uma política
("policy") de governo.
Qual desses dois significados inspira o fichamento de turistas norte-americanos que chegam ao Brasil? E
a troca de chefia na agência reguladora das telecomunicações? E os
anúncios quase diários de programas
sociais e de metas de geração de empregos? Quem é mais poderoso: José
Dirceu, o superministro da "politics",
ou Antonio Palocci, o superministro
da "policy"?
É natural que nas democracias os
dois conceitos se misturem, embora
se acredite idealmente que a política
("politics") deva ser um meio de tornar viáveis as políticas ("policies") tidas como necessárias e virtuosas.
Mas o governo Lula tem lá as suas
particularidades.
Sua principal missão e desafio parece ser integrar ao sistema formal de
poder as várias correntes do PT e os
grupos heterogêneos que gravitam
em torno do partido, aí incluídos representantes da elite sindical, setores
da esquerda universitária, da igreja,
das ONGs, economistas e diplomatas
heterodoxos, ex-comunistas de ideologia à deriva, militantes de causas
diversas. Gente que parecia ter vocação para a oposição eterna.
Trata-se, sim, de uma grande mudança no campo da política ("politics"), que levará tempo para ser consolidada. Só não é realista esperar
por inovações comparáveis nas políticas ("policies") públicas. Estas nem
sequer terão definição clara enquanto flutuarem ao sabor das conveniências e limitações do novo poder.
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