São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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GUSTAVO PATÚ

Política e políticas

BRASÍLIA - A língua inglesa tem duas palavras diferentes para o que chamamos de política. "Politics" refere-se normalmente às estratégias para a conquista, a conservação e a divisão do poder. "Policy" diz respeito à fixação de objetivos, iniciativas e planos de ação administrativa.
Exemplo: uma reforma ministerial destinada fundamentalmente a acomodar o PMDB no governo e a redistribuir postos de comando entre o PT e seus aliados será uma obra da política ("politics"); outra opção é uma reforma que busque uma estrutura de cargos e nomes mais adequada para o cumprimento de uma política ("policy") de governo.
Qual desses dois significados inspira o fichamento de turistas norte-americanos que chegam ao Brasil? E a troca de chefia na agência reguladora das telecomunicações? E os anúncios quase diários de programas sociais e de metas de geração de empregos? Quem é mais poderoso: José Dirceu, o superministro da "politics", ou Antonio Palocci, o superministro da "policy"?
É natural que nas democracias os dois conceitos se misturem, embora se acredite idealmente que a política ("politics") deva ser um meio de tornar viáveis as políticas ("policies") tidas como necessárias e virtuosas. Mas o governo Lula tem lá as suas particularidades.
Sua principal missão e desafio parece ser integrar ao sistema formal de poder as várias correntes do PT e os grupos heterogêneos que gravitam em torno do partido, aí incluídos representantes da elite sindical, setores da esquerda universitária, da igreja, das ONGs, economistas e diplomatas heterodoxos, ex-comunistas de ideologia à deriva, militantes de causas diversas. Gente que parecia ter vocação para a oposição eterna.
Trata-se, sim, de uma grande mudança no campo da política ("politics"), que levará tempo para ser consolidada. Só não é realista esperar por inovações comparáveis nas políticas ("policies") públicas. Estas nem sequer terão definição clara enquanto flutuarem ao sabor das conveniências e limitações do novo poder.



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