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CARLOS HEITOR CONY
Balanço ainda sem queda
RIO DE JANEIRO - Um ano após a chegada dos novos donos do poder,
Brasília oferece à nação a impressão
de que nada começou realmente. A
arrumação da equipe teria de expressar as confusas alianças que deram
condições ao PT de chegar aonde
chegou. Desfigurado ideologicamente, amorfo na forma e complicado no
conteúdo, o partido gastou todas as
suas energias na costura de um governo que ficou longe do esperado
por aqueles que votaram compactamente em Lula.
A começar pelo próprio presidente,
que, não se sabe por que, decidiu fazer do seu mandato um trampolim
para o cenário internacional, viajando adoidado e nem sempre com uma
agenda capaz de justificar a sua ausência no interior de uma política nacional da qual deveria ser o núcleo.
Os ministros mais importantes limitaram-se a continuar na mesma
trilha do governo anterior, dando absoluta prioridade aos desafios econômicos, sem maior criatividade do que
a de se submeter às condições impostas pelos interesses do capital mundial, que tem como executivo mais
atuante o FMI.
Os demais ministros, uns mais, outros menos, permaneceram 12 meses
tentando escapar da frigideira que,
nos últimos dias, deslocou o eixo do
poder para as futricas pura e simples,
futricas que os comentaristas especializados preferem chamar de "articulações".
Como todos sabemos, a função de
nomear ou de demitir ministros é tarefa exclusiva do presidente da República. Mas nunca uma tarefa presidencial foi tão pulverizada como
agora. Pergunta-se: o que se pode esperar de uma equipe cuja maior
preocupação, durante um ano, foi a
de continuar numa equipe que, na
prática, pouco ou nada realizou?
Apelando para o clichê, o presidente garante que o espetáculo só agora
vai começar. Além de um atestado de
que realmente não começou a governar, transfere para os três anos restantes de seu mandato as maravilhas
prometidas em quatro campanhas
eleitorais.
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