São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Balanço ainda sem queda

RIO DE JANEIRO - Um ano após a chegada dos novos donos do poder, Brasília oferece à nação a impressão de que nada começou realmente. A arrumação da equipe teria de expressar as confusas alianças que deram condições ao PT de chegar aonde chegou. Desfigurado ideologicamente, amorfo na forma e complicado no conteúdo, o partido gastou todas as suas energias na costura de um governo que ficou longe do esperado por aqueles que votaram compactamente em Lula.
A começar pelo próprio presidente, que, não se sabe por que, decidiu fazer do seu mandato um trampolim para o cenário internacional, viajando adoidado e nem sempre com uma agenda capaz de justificar a sua ausência no interior de uma política nacional da qual deveria ser o núcleo.
Os ministros mais importantes limitaram-se a continuar na mesma trilha do governo anterior, dando absoluta prioridade aos desafios econômicos, sem maior criatividade do que a de se submeter às condições impostas pelos interesses do capital mundial, que tem como executivo mais atuante o FMI.
Os demais ministros, uns mais, outros menos, permaneceram 12 meses tentando escapar da frigideira que, nos últimos dias, deslocou o eixo do poder para as futricas pura e simples, futricas que os comentaristas especializados preferem chamar de "articulações".
Como todos sabemos, a função de nomear ou de demitir ministros é tarefa exclusiva do presidente da República. Mas nunca uma tarefa presidencial foi tão pulverizada como agora. Pergunta-se: o que se pode esperar de uma equipe cuja maior preocupação, durante um ano, foi a de continuar numa equipe que, na prática, pouco ou nada realizou?
Apelando para o clichê, o presidente garante que o espetáculo só agora vai começar. Além de um atestado de que realmente não começou a governar, transfere para os três anos restantes de seu mandato as maravilhas prometidas em quatro campanhas eleitorais.



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