São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

A nova idéia fixa do FMI

SÃO PAULO - A idéia fixa mais nova do FMI é acabar com o crédito direcionado. Em português: devem acabar empréstimos a juros menores para agricultura, compra de casas e empresas que vão ao BNDES. Deve acabar a influência do governo sobre como os bancos emprestam. O dinheiro do PIS-Pasep, que vai para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e daí para o BNDES (ao menos 40%), deveria ser emprestado diretamente por bancos comerciais.
Rodrigo Rato, diretor-gerente do FMI, tratou disso com Lula e equipe. Num café com jornalistas, ontem, estava animadíssimo com o tema.
O BC de Henrique Meirelles e Joaquim Levy, secretário do Tesouro de Palocci, são adeptos da tese, ou de parte dela. Meirelles falou disso em 2003. Ninguém ligou. Em 2004, falou de novo. Foi chamado de "pesadelo" por Carlos Lessa, do BNDES. Lula decapitou Lessa e o debate esfriou.
O que diz a turma liberal? Um, crédito direcionado é subsídio: o banco compensa o que perde no crédito barato cobrando mais de outros clientes. Dois: como os juros do direcionado são menores, a taxa do BC tem de ser muito maior para frear a economia e conter a inflação, custo que é pago por todos. Três, o crédito direcionado é distribuído de modo ineficiente, não pelo mercado.
E a "turma do contra"? Diz que há crédito direcionado porque os bancos não emprestam a taxas decentes, e não o contrário. Que a taxa do BC é de curto prazo, a do direcionado é longa, uma coisa nada tem a ver com a outra. Que o crédito livre, em que o governo não apita, foi de 18% do total de empréstimos, há cinco anos, para 46% em 2004 e que nem assim mudou a política de juros. Que todo país, ainda mais em desenvolvimento, tem crédito direcionado. Que o mercado quer é pegar o dinheiro do FAT e privatizar bancos federais.
Várias idéias fixas do FMI não pegam: fim da CLT, BC autônomo etc. A indústria, claro, tem horror à tese Rato-Meirelles. O debate é bom.
Enfim, Rato riu muito da foto da Folha de ontem, Palocci e Meirelles fazendo "reverências" diante dele.


@ - vinit@uol.com.br

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