São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Do sonho ao pesadelo

BRASÍLIA - O Haiti está para o Brasil como o Iraque está para os EUA e, nos dois casos, repete-se a máxima das CPIs: todo mundo sabe como começam, ninguém sabe como terminam. A verdade, nua e crua, é que o Brasil está louco para sair do Haiti, mas não sabe como nem quando. Segundo o provável novo comandante das tropas de paz, general José Elito Siqueira, bem que a ONU poderia começar a pensar no "desengajamento das tropas" depois das eleições de 7 de fevereiro. Ou seja: em mandar todo mundo de volta para casa, inclusive os brasileiros. Isso significa que o Brasil e os demais países vão deixar o Haiti exatamente como encontraram: um caos. De todo o sonho e de todas as promessas de restauração das instituições, da polícia, da economia, da infra-estrutura, da auto-estima do povo, blablablá, só se materializa a eleição. Mesmo ela deveria ser o início de uma nova era, mas parece condenada a ser apenas o fim de outra. A intenção do Brasil era participar de um "projeto de reconstrução" que combinasse ação militar com ação econômica e social. Acabou integrando uma mera tropa militar. Pior até, porque oficiais e soldados agem como policiais, reprimindo seqüestros, guerras de gangues e crimes comuns. Coisas, aliás, que o Exército brasileiro está, até constitucionalmente, impedido de fazer nas favelas do Rio. E só há duas diferença: Porto Príncipe, capital do Haiti, é mais pobre ainda e não tem narcotráfico. Se algo fica da aventura é que levas de soldados brasileiros tiveram a chance de treinamento real, sem simulações. Bom exercício militar. Já para a população do Haiti, resta pouco. As ruas continuam imundas, as pessoas miseráveis, as instituições em frangalhos e a economia na lama. Entrar no Haiti foi uma festa alvissareira. Sair será como fechar a escotilha e deixar o barco afundar.

 

Toca do leão: o vice Alencar almoça hoje no BC com Henrique Meirelles.

@ - elianec@uol.com.br

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