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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Um retrato do lulismo
SÃO PAULO - No ano de 2000, a
expressão "lulismo" não apareceu
nenhuma vez nas páginas da Folha.
Em 2009, foi escrita 65 vezes. Em
2002, quando Lula se elegeu, houve
quatro menções a "lulismo" no jornal; em 2006, ano da reeleição, a
palavra foi repetida 55 vezes.
Isso dá uma medida de como o
lulismo é recente, embora nos pareça tão familiar. A compreensão
do fenômeno está só no começo. É
precioso, também por isso, o artigo
"Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo", que o cientista político André Singer acaba de publicar na revista "Novos Estudos", do Cebrap.
Quem fala nesse ensaio acadêmico
é o professor da USP, não o porta-voz de Lula no primeiro mandato.
Entre 2002 e 2006, a base social
que elegeu Lula mudou. Ele perdeu
apoio nas camadas médias, mais
instruídas e politizadas (reduto tradicional do PT), e conquistou, de
maneira inédita, o voto maciço do
povão, que Singer chama de "subproletariado": aquela fração numerosa e desorganizada de trabalhadores de "baixíssima renda".
Enquanto os atores políticos se
ocupavam dos meandros do mensalão, o governo produzia em silêncio o "Real do Lula", responsável
por reduzir em quase 20% o número de pessoas abaixo da linha da pobreza entre 2003-05, diz o autor.
Aqui entra a combinação de
ideias que amarra o artigo: a massa
que está na origem do lulismo deseja um Estado forte para combater
as desigualdades, mas não tolera
ameaça à ordem estabelecida. Ela é
conservadora. Se houve uma "desconexão das bases sociais do petismo e do lulismo", diz Singer, também é certo que Lula, ao insistir na
estabilidade econômica, "tirou a
plataforma a partir da qual o centro
mobilizava os mais pobres".
O lulismo, diz o autor, "uniu bandeiras que pareciam não combinar"
ao "combater a desigualdade dentro da ordem". E Lula, por sua vez,
alcançou uma "autonomia bonapartista" à medida que passou a ser
sustentado pela base subproletária.
Não foi à toa que o governo começou a emular símbolos dos anos
50. O populismo voltou ao debate.
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