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CARLOS HEITOR CONY
Distorção profissional
RIO DE JANEIRO - Acompanho
com algum interesse a crise aberta
dentro do governo a respeito da Lei
da Anistia. As posições estão definidas, o único indefinido até agora é o
presidente da República. Nos tempos do velho PT, embora com poder
decisório, ele mantinha suas hesitações para ganhar tempo e manter o
partido em rédeas curtas.
Desta vez, não se trata de um partido cuja hegemonia precisa ser
mantida. É mais do que um Estado:
é uma nação.
Um ponto parece pacífico: o Estado, para o bem da nação, precisa
abrir os porões do regime militar de
1964 a 1985. Não se trata de punir
indivíduos, de saber a identidade e
o CPF dos assassinos de Vladimir
Herzog e de tantos outros, os que
montaram a farsa de seu suicídio
e de centenas de outros que estão
desaparecidos ou oficialmente
mortos.
Os militares que deram o golpe e
mantiveram a ditadura são os principais responsáveis pelo que se convencionou chamar de "regime de
exceção". Foram eles que tomaram
o Estado por meio da força e mantiveram a nação refém do arbítrio e
da repressão. Precisamos saber como uma classe, destinada pela
Constituição a defender a nação,
decide empolgar o Estado e fazer
dele o carrasco da sociedade.
Que venha a verdade, que ela seja
ensinada nos currículos das escolas
militares, mostrando que nem sempre o Estado é o defensor da nação,
mas seu servo incondicional.
Vivemos um tempo em que se
tornou banal o pedido de desculpas
públicas. A i
greja o fez, a propósito da Inquisição e de Galileu. Agora mesmo o governador do DF pediu desculpas
pelo seu delito pessoal. A melhor
forma de os militares pedirem perdão à sociedade é admitir os erros
do passado e garantirem que a distorção profissional não mais se repetirá.
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