|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLAUDIA ANTUNES
Não há aliança grátis
SÃO PAULO - O fracasso da ocupação do Iraque levou alguns estudiosos das relações internacionais
nos Estados Unidos a concluírem
que os americanos, diferentemente
de britânicos e franceses no passado, não têm apetite para o colonialismo clássico. Ato seguinte, propagou-se a tese de que era preciso haver uma divisão do trabalho: os
EUA entram com a força e seus aliados, europeus à frente, com a tarefa
de "construção de Estados".
É nesse quadro que está inscrita a
declaração feita em São Paulo por
Nicholas Burns, subsecretário de
Estado americano para Assuntos
Políticos, de que o Brasil deve pensar em se tornar "um provedor global de segurança". Para que Washington possa intervir nos "Estados
falidos", alguém tem que vir atrás
para as funções "humanitárias"
-mas estão faltando braços.
Um caso atual é o da Somália: os
EUA intervieram, por meio da Etiópia, contra os Tribunais Islâmicos
que controlavam boa parte do país e
eram acusados de abrigar gente da
Al Qaeda. Agora, tenta-se com muito esforço reunir uma força de paz
africana que permita a saída etíope.
A sugestão discreta de Burns, no
rodapé da "agenda positiva" do governo Bush para a América do Sul, é
uma boa lembrança para quem
acredita na viabilidade de um alinhamento total com os EUA. O custo, mesmo que eles quisessem compartilhá-lo (derrubando, por exemplo, barreiras a produtos brasileiros), não seria barato nem ofereceria garantias de longo prazo.
Os EUA são, sem dúvida, a maior
economia e a única potência militar
global. Mas o breve "momento unipolar" que se seguiu ao fim da Guerra Fria não existe mais. A euforia do
crescimento mundial e a interdependência econômica podem matizar a realidade, mas o que se entrevê é uma acumulação de forças, em
toda parte, para um futuro conturbado. É difícil imaginar alianças
que não sejam táticas.
Texto Anterior: Editoriais: Avanço insuficiente Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Lula sem pressa Índice
|