São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

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CLAUDIA ANTUNES

Não há aliança grátis

SÃO PAULO - O fracasso da ocupação do Iraque levou alguns estudiosos das relações internacionais nos Estados Unidos a concluírem que os americanos, diferentemente de britânicos e franceses no passado, não têm apetite para o colonialismo clássico. Ato seguinte, propagou-se a tese de que era preciso haver uma divisão do trabalho: os EUA entram com a força e seus aliados, europeus à frente, com a tarefa de "construção de Estados".
É nesse quadro que está inscrita a declaração feita em São Paulo por Nicholas Burns, subsecretário de Estado americano para Assuntos Políticos, de que o Brasil deve pensar em se tornar "um provedor global de segurança". Para que Washington possa intervir nos "Estados falidos", alguém tem que vir atrás para as funções "humanitárias" -mas estão faltando braços.
Um caso atual é o da Somália: os EUA intervieram, por meio da Etiópia, contra os Tribunais Islâmicos que controlavam boa parte do país e eram acusados de abrigar gente da Al Qaeda. Agora, tenta-se com muito esforço reunir uma força de paz africana que permita a saída etíope.
A sugestão discreta de Burns, no rodapé da "agenda positiva" do governo Bush para a América do Sul, é uma boa lembrança para quem acredita na viabilidade de um alinhamento total com os EUA. O custo, mesmo que eles quisessem compartilhá-lo (derrubando, por exemplo, barreiras a produtos brasileiros), não seria barato nem ofereceria garantias de longo prazo.
Os EUA são, sem dúvida, a maior economia e a única potência militar global. Mas o breve "momento unipolar" que se seguiu ao fim da Guerra Fria não existe mais. A euforia do crescimento mundial e a interdependência econômica podem matizar a realidade, mas o que se entrevê é uma acumulação de forças, em toda parte, para um futuro conturbado. É difícil imaginar alianças que não sejam táticas.


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