|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Ganzá, fuzuê e marcha a ré social
SÃO PAULO - A imagem de Bush
com seu ganzá, acompanhando
compenetrado a apresentação da
ONG dos Meninos do Morumbi, é a
expressão da estupidez de uma época. Os sobreviventes mirins da nossa guerra social perdida oferecem
aos olhos do mundo uma miragem
do país que não lhes dará futuro. O
gênio de Angeli capturou o drama
na charge de ontem nesta página.
Para quem volta de férias, o governo Lula não serve de estímulo. A
lenta gestação do segundo mandato
é um faz-de-conta. Os ratos do consórcio governista que a montanha
irá parir são conhecidos. Quem se
importa? O governo, de resto, é isso
que aí está. Administra o Estado do
Mal-Estar Social: quem não tem
educação, saúde, renda e trabalho
se vira com o Bolsa Família.
O país só parece pensar na escalada da violência. Eco amplificado da
comoção e do medo coletivos, a mídia grita "basta!" e constrange o
Congresso a endurecer as leis. Caminhamos, sem volta, na direção da
ampliação do encarceramento. Mas
o justo clamor por segurança desta
vez baniu do horizonte qualquer esforço para inscrever os fenômenos
da delinqüência no solo social.
É quase uma heresia lembrar o
desmazelo do país, como se isso representasse a humanização de facínoras ou fosse perda de tempo. A
sociedade alarmada agora exige o
"fast track" punitivo.
Os célebres artigos do professor
Renato Janine são um marco e um
estandarte da regressão em curso.
No segundo texto, publicado na semana passada como emenda ao soneto, ele diz: "O assassino cruel passou há muito tempo dos limites da
civilidade. Espanta que alguém deseje, para ele, tormentos? Desejar
não é fazer". Nasce um ideólogo dos
novos tempos...
Como contraponto ao arrastão
reacionário, é instrutiva a leitura do
ensaio "Duas Vezes Pânico na Cidade", que encerra o livro recém-lançado do filósofo Paulo Arantes
-"Extinção" (Boitempo). A filosofia uspiana se divide agora entre
apocalípticos e desintegrados.
Texto Anterior: Editoriais: Aberta e vulnerável Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O reino do fingimento Índice
|