São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Ganzá, fuzuê e marcha a ré social

SÃO PAULO - A imagem de Bush com seu ganzá, acompanhando compenetrado a apresentação da ONG dos Meninos do Morumbi, é a expressão da estupidez de uma época. Os sobreviventes mirins da nossa guerra social perdida oferecem aos olhos do mundo uma miragem do país que não lhes dará futuro. O gênio de Angeli capturou o drama na charge de ontem nesta página.
Para quem volta de férias, o governo Lula não serve de estímulo. A lenta gestação do segundo mandato é um faz-de-conta. Os ratos do consórcio governista que a montanha irá parir são conhecidos. Quem se importa? O governo, de resto, é isso que aí está. Administra o Estado do Mal-Estar Social: quem não tem educação, saúde, renda e trabalho se vira com o Bolsa Família.
O país só parece pensar na escalada da violência. Eco amplificado da comoção e do medo coletivos, a mídia grita "basta!" e constrange o Congresso a endurecer as leis. Caminhamos, sem volta, na direção da ampliação do encarceramento. Mas o justo clamor por segurança desta vez baniu do horizonte qualquer esforço para inscrever os fenômenos da delinqüência no solo social.
É quase uma heresia lembrar o desmazelo do país, como se isso representasse a humanização de facínoras ou fosse perda de tempo. A sociedade alarmada agora exige o "fast track" punitivo.
Os célebres artigos do professor Renato Janine são um marco e um estandarte da regressão em curso. No segundo texto, publicado na semana passada como emenda ao soneto, ele diz: "O assassino cruel passou há muito tempo dos limites da civilidade. Espanta que alguém deseje, para ele, tormentos? Desejar não é fazer". Nasce um ideólogo dos novos tempos...
Como contraponto ao arrastão reacionário, é instrutiva a leitura do ensaio "Duas Vezes Pânico na Cidade", que encerra o livro recém-lançado do filósofo Paulo Arantes -"Extinção" (Boitempo). A filosofia uspiana se divide agora entre apocalípticos e desintegrados.


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