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FERNANDO RODRIGUES
O reino do fingimento
BRASÍLIA - O PMDB fez sua convenção nacional ontem em Brasília.
O presidente da sigla, Michel Temer, disse: "O partido vai construir
candidatura própria e dentro da
coalizão. Nosso desejo é que tenhamos candidato à Presidência da República apoiado por todos os partidos da coalizão".
A frase de Temer contém um ardil. Ao pronunciar um desejo impossível -um candidato do PMDB
a presidente "apoiado por todos os
partidos da coalizão"-, o peemedebista poderia dizer o seguinte:
"Olhe, sejamos francos, o PMDB
não tem um nome que consiga ter o
apoio de todas as 11 legendas governistas. Também não existe força
motriz no partido disposta a se unir
em torno de algum nome com potencial eleitoral. Logo, não teremos
candidato a presidente".
Essa história é conhecida.
Em 1998, o então presidente nacional do PMDB, Paes de Andrade,
declarou: "Tenho convicção, pelos
contatos que venho realizando no
Brasil inteiro, de que o PMDB vai
lançar candidatura própria". O partido não teve candidato.
Em 2002, a mesma ladainha. O já
presidente nacional peemedebista,
Michel Temer, mostrou-se neutro.
Dizia até querer eleições internas
para escolher um candidato: "É inevitável fazer as prévias. O PMDB
precisa definir seu destino: candidato próprio ou aliança". Antes, em
dezembro de 2001, havia sido explícito: "O PMDB está em busca da
candidatura própria".
Na prática, nunca o grupo hegemônico do PMDB nos últimos 20
anos trabalhou de fato para a agremiação viabilizar um candidato forte a presidente da República. Em
1989, a imensa maioria do partido
traiu Ulysses Guimarães. Em 1994,
Orestes Quércia conseguiu ter menos votos que Enéas.
Ontem, o fingimento voltou à cena peemedebista. Pobres de nós.
Teremos de aturar essa pantomima
até meados de 2010.
frodriguesbsb@uol.com.br
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