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A AVENTURA DE BUSH
O levante em curso no Iraque
traz novas complicações para
o já difícil quadro enfrentado pelas
forças de ocupação do país. Dois elementos até aqui inéditos surgiram
em cena. O primeiro deles é a evidência de que sunitas e xiitas estariam
estabelecendo algum grau de cooperação para combater as tropas invasoras. As duas vertentes têm um longo histórico de ódios e desavenças.
Durante o regime de Saddam Hussein, ligado aos sunitas, os xiitas, que
congregam 60% da população, foram violentamente perseguidos.
O governo George W. Bush sempre tentou vender a idéia de que a
derrubada do ditador iraquiano seria
recebida com júbilo por essa maioria
oprimida, que acabaria por demonstrar apoio e gratidão aos norte-americanos. Está claro que os fatos vão
solapando essa versão. Grande parte
dos xiitas não se mostra disposta a
esperar resignadamente pelas eleições diretas prometidas pelos representantes da potência ocidental.
O segundo fato novo são os reféns
de diversas nacionalidades, usados
para chantagear os países que cooperam na ocupação. Não é nada simples para um governo como o do Japão, que enfrenta eleições parlamentares em julho, explicar por que três
compatriotas podem ser sacrificados
em nome de uma ação militar deflagrada sem o endosso da ONU. Dificuldades semelhantes são enfrentadas por outros líderes que apoiaram
a invasão, o que tem levado Bush a se
empenhar numa campanha para que
as posições aliadas sejam mantidas.
É certo que os EUA contam com
poderio militar mais do que suficiente para sufocar a revolta iraquiana. Isso, no entanto, não resolve o fundamental. Deterioram-se as condições
para a formação de um poder local
ao mesmo tempo firme e aceitável
pelos americanos. Passado um ano
da queda de Saddam Hussein, a
guerra prossegue, e o Iraque só faz
evidenciar os equívocos da aventura
militar de Bush.
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