São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004

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A AVENTURA DE BUSH

O levante em curso no Iraque traz novas complicações para o já difícil quadro enfrentado pelas forças de ocupação do país. Dois elementos até aqui inéditos surgiram em cena. O primeiro deles é a evidência de que sunitas e xiitas estariam estabelecendo algum grau de cooperação para combater as tropas invasoras. As duas vertentes têm um longo histórico de ódios e desavenças. Durante o regime de Saddam Hussein, ligado aos sunitas, os xiitas, que congregam 60% da população, foram violentamente perseguidos.
O governo George W. Bush sempre tentou vender a idéia de que a derrubada do ditador iraquiano seria recebida com júbilo por essa maioria oprimida, que acabaria por demonstrar apoio e gratidão aos norte-americanos. Está claro que os fatos vão solapando essa versão. Grande parte dos xiitas não se mostra disposta a esperar resignadamente pelas eleições diretas prometidas pelos representantes da potência ocidental.
O segundo fato novo são os reféns de diversas nacionalidades, usados para chantagear os países que cooperam na ocupação. Não é nada simples para um governo como o do Japão, que enfrenta eleições parlamentares em julho, explicar por que três compatriotas podem ser sacrificados em nome de uma ação militar deflagrada sem o endosso da ONU. Dificuldades semelhantes são enfrentadas por outros líderes que apoiaram a invasão, o que tem levado Bush a se empenhar numa campanha para que as posições aliadas sejam mantidas.
É certo que os EUA contam com poderio militar mais do que suficiente para sufocar a revolta iraquiana. Isso, no entanto, não resolve o fundamental. Deterioram-se as condições para a formação de um poder local ao mesmo tempo firme e aceitável pelos americanos. Passado um ano da queda de Saddam Hussein, a guerra prossegue, e o Iraque só faz evidenciar os equívocos da aventura militar de Bush.


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