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O PODER DO TRÁFICO
Passa o tempo , mudam os governantes, mas tudo permanece
inalterado na rotina de violência dos
morros e favelas do Rio de Janeiro.
Na Semana Santa, o país acompanhou, aturdido, as imagens de mais
uma batalha travada na antiga capital
federal, desta feita na Rocinha e no
Vidigal, na zona sul da cidade.
Curiosamente, ao mesmo tempo
em que traficantes se enfrentavam e
policiais ocupavam os morros, noticiava-se o lançamento de um romance no qual o autor confere tratamento ficcional a fatos que presenciou
precisamente na Rocinha, como a
existência de uma rede de conivência
que une policiais, traficantes, líderes
comunitários e ONGs.
Não é preciso especial discernimento para perceber que a questão
está longe de se circunscrever a disputas de quadrilhas por pontos de
droga. A presença do narcotráfico
transcende os limites desses bandos
e das comunidades carentes. Atinge
setores da polícia e do poder público,
numa ampla teia de interesses cujo
nome é crime organizado.
Não há dúvida de que as quadrilhas
de traficantes devem ser combatidas,
embora essa seja uma luta inglória,
enquanto persistirem outras situações que fomentam a formação desses grupos. A questão é complexa e
não há solução simples nem alcançável em curto prazo. As Forças Armadas já foram mobilizadas, e o
Exército já ocupou morros cariocas,
sem que nada tenha, afinal, mudado.
Para ser equacionado, o problema
exige algo raro no poder público brasileiro, que é a capacidade de desenvolver ações coordenadas em diferentes esferas. É essencial que os governos estaduais e federal se entendam. Mais do que isso, é preciso ter a
coragem de buscar nos estratos menos miseráveis da população os elos
mais fortes da corrente do narcotráfico. Sem atacar a lavagem de dinheiro
e a corrupção que se dissemina pelas
instituições, continuaremos condenados a presenciar batalhas entre policiais, bandos e chefetes, como as
que se travam no Rio.
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