São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Tempo de prevenção às LER/Dort MARIA JOSÉ O'NEILL e COSMO PALÁSIO DE MORAES JR.
A história da humanidade tem alguns momentos bastante interessantes que, embora jamais tenham sido
tratados como fatos históricos, são, na
verdade, os que realmente dividem a
nossa caminhada e mudam todo o sentido da trajetória humana. Um deles,
com certeza, diz respeito ao impreciso
momento em que alguns homens entenderam que a eles caberia o uso do raciocínio e aos demais, apenas o uso das
mãos. Ao longo dos tempos, chamaram
isso de trabalho e, para garantir sua legitimidade, agregaram a ele conceitos filosóficos atribuindo sua origem ao desígnio dos deuses.
Os portadores dessas doenças pagam um preço muito alto pela falta de conhecimento e programas de prevenção, e a sociedade arca com os custos. O problema é um fenômeno mundial. Nos EUA, apenas em 1998, foram notificados 650 mil novos casos, sendo a LER responsável por dois terços do absenteísmo da maior economia do mundo, gerando um custo estimado pela Organização Mundial da Saúde em torno de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões. No Brasil, onde as LER só foram reconhecidas como doença ocupacional em 1997, os números também assustam. Na pesquisa feita pelo Datafolha, 6% da população laborativa de São Paulo aponta diagnósticos de LER. O quadro torna-se ainda mais preocupante quando se sabe que apenas 2% das empresas emitem a Comunicação de Acidentes do Trabalho relativa às LER. Por trás da omissão, cresce o passivo trabalhista dessas empresas e, conseqüentemente, o assunto, mais cedo ou mais tarde, vai afetar a condição já precária de nossa Previdência Social. Entender os fatores que propiciam o surgimento das LER não é muito difícil mesmo para os leigos em saúde ocupacional: tarefas repetitivas e monótonas, ritmo acelerado de trabalho, excesso de jornadas e ausência de pausas, adoção de posturas inadequadas e fatores biopsicossociais, como pressões da chefia e metas mal ajustadas são comuns na grande maioria das empresas e raramente são associados aos danos causados aos trabalhadores. O interessante é que são, ao mesmo tempo, muitos desses fatores que inibem o desenvolvimento das empresas de forma consistente, prejudicando a produtividade e, por conseqüência, a competitividade. Nestes tempos de crise econômica, vale fazer uma ampla reflexão sobre os objetivos do trabalho, da saúde e da competitividade tanto para os empresários como para a sociedade, trazendo para dentro desse universo elementos que possam contribuir com o desenvolvimento holístico, e não apenas para o atendimento de necessidades de uns poucos. Esperamos que acordemos ainda a tempo de usar o respeito à vida e a sua dignidade como fator positivo para fazermos frente às necessidades de um mundo globalizado. Pode ser esse o caminho para que a forma de ser do povo brasileiro sirva como base para o verdadeiro progresso. Maria José Pereira da Silva O'Neill, 47, jornalista, é presidente do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort. Cosmo Palásio de Moraes Júnior, 42, técnico de segurança e trabalho, é coordenador do Grupo Virtual SESMT. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luís Carlos Fernandes Afonso: Entre o falar e o fazer Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
|