São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Fim de papo?

HAIA - O mundo inteiro está assustado com o aumento da inflação, especialmente com os preços da comida. Tão assustado que o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, está até propondo que o G7, o clubão dos sete países mais ricos do mundo, prepare algum pacote para enfrentar o fenômeno.
Todo mundo assustado, menos Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo segundo dia consecutivo, em sua visita oficial à Holanda, o presidente brasileiro insistiu numa tese que, embora essencialmente correta, deixa de lado alguns detalhes absolutamente relevantes.
A tese é esta: a alta de preços dos alimentos se deve ao fato de que "tem mais gente comendo mais". É verdade. No mundo inteiro. Logo, quando à maior demanda não corresponde aumento da oferta, sobem os preços. É um teorema mais antigo que o mundo.
A resposta ao fenômeno, segundo Lula, é produzir mais. Diz que o Brasil vai procurar a auto-suficiência no trigo e deve produzir mais arroz e mais milho. Ótimo, mas, enquanto não aumenta a produção, o que fazer? Lula não responde, a não ser com a tese de que a inflação é motivo de "alegria", porque há mais gente comendo mais. Alegria boba. Para ser genuína, o certo seria mais gente comendo mais sem fazer disparar a inflação. O que está ocorrendo em inúmeros países muito pobres é o contrário. A alta de preços fez cair o consumo.
Segundo problema: Lula propõe que países ricos unam-se a países como o Brasil, grande produtor agrícola e de avançada tecnologia na área, para aumentar a produção nos países mais pobres. É uma proposta tão generosa quanto impraticável em um mundo em que predomina o egoísmo, inclusive entre lideranças políticas.
Não é culpa de Lula, mas o Brasil certamente tem mais a oferecer, nesse tipo de tema, do que uma fuga para a alegria.


crossi@uol.com.br

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