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CLÓVIS ROSSI
Fim de papo?
HAIA - O mundo inteiro está assustado com o aumento da inflação,
especialmente com os preços da comida. Tão assustado que o primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, está até propondo que o G7,
o clubão dos sete países mais ricos
do mundo, prepare algum pacote
para enfrentar o fenômeno.
Todo mundo assustado, menos
Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo segundo dia consecutivo, em sua visita oficial à Holanda, o presidente
brasileiro insistiu numa tese que,
embora essencialmente correta,
deixa de lado alguns detalhes absolutamente relevantes.
A tese é esta: a alta de preços dos
alimentos se deve ao fato de que
"tem mais gente comendo mais". É
verdade. No mundo inteiro. Logo,
quando à maior demanda não corresponde aumento da oferta, sobem os preços. É um teorema mais
antigo que o mundo.
A resposta ao fenômeno, segundo
Lula, é produzir mais. Diz que o
Brasil vai procurar a auto-suficiência no trigo e deve produzir mais arroz e mais milho.
Ótimo, mas, enquanto não aumenta a produção, o que fazer? Lula
não responde, a não ser com a tese
de que a inflação é motivo de "alegria", porque há mais gente comendo mais. Alegria boba. Para ser genuína, o certo seria mais gente comendo mais sem fazer disparar a
inflação. O que está ocorrendo em
inúmeros países muito pobres é o
contrário. A alta de preços fez cair o
consumo.
Segundo problema: Lula propõe
que países ricos unam-se a países
como o Brasil, grande produtor
agrícola e de avançada tecnologia
na área, para aumentar a produção
nos países mais pobres. É uma proposta tão generosa quanto impraticável em um mundo em que predomina o egoísmo, inclusive entre lideranças políticas.
Não é culpa de Lula, mas o Brasil
certamente tem mais a oferecer,
nesse tipo de tema, do que uma fuga
para a alegria.
crossi@uol.com.br
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