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O Banco Central deveria aumentar os juros na próxima quarta-feira para conter a inflação?
SIM
Alta moderada do juro é salutar
CARLOS EDUARDO SOARES GONÇALVES
NA SEMANA que vem, o Copom
(Comitê de Política Monetária) se reunirá mais uma vez
para analisar a evolução do quadro
econômico e, a partir daí, decidir o
que fazer com a taxa de juros básica.
Olhando os dados dos contratos de
juros nos mercados futuros, fica claro
que os agentes econômicos atribuem
probabilidade muito alta de que a Selic seja elevada, ficando a discordância restrita ao tamanho do ajuste.
Recentemente, o professor Delfim
Netto disse não ver excesso de demanda na economia brasileira. Com a
ironia de sempre, aventou que a única
coisa em excesso no Brasil é a dengue.
Apesar de concordar com vários
pontos levantados por Delfim Netto,
como a crítica à visão de que o PIB potencial brasileiro tem um teto de expansão na casa de 3,5%, não me coaduno com a tese de ausência de excesso de demanda.
De fato, não é trivial a afirmação de
que o crescimento forte levará à inflação acima da meta, visto que ela só estará correta se o crescimento se dever
eminentemente a impulsos de demanda, que causam aumentos dos
preços. Quando a economia cresce a
reboque de ganhos de produtividade
e investimentos, a inflação não é um
problema, como nos mostra a experiência americana da segunda metade
da década passada.
Assim, preocupa o fato de que a taxa de crescimento de vendas do varejo esteja rodando na casa dos 12% (em
12 meses). Isso porque "vendas" é
uma medida quase pura de demanda.
A produção industrial, por sua vez,
vem crescendo bem abaixo disso: 7%.
Outra variável que os economistas
gostam de olhar para medir a "temperatura" da demanda é a expansão da
quantidade de moeda na economia.
Até janeiro, o crescimento em 12 meses do agregado monetário chamado
de M1 girou acima de 22% e apenas na
ponta da série passou a situar-se abaixo de 20%. Não é pouco.
Por fim, a utilização da capacidade
instalada da indústria não tem cedido
nem mesmo em meio à boa leva de investimentos que temos testemunhado, situando-se em torno dos 83%.
Em resumo, há sinais de descompasso entre oferta e demanda, sim.
Mas como pode a demanda crescer
mais rápido que a produção sem que a
inflação já tenha explodido em nossas
faces? A resposta é simples: a conta
está "fechando" via importações, que
têm crescido vigorosamente.
Por enquanto, devido aos elevados
preços internacionais dos bens que
exportamos, esse influxo de bens importados não levou à depreciação
cambial e, conseqüentemente, não
gerou problemas inflacionários. Mas
não se deve contar com essa saída "ad
infinitum", pois em alguma hora o déficit afeta o câmbio.
Do lado oposto, o principal argumento daqueles contra a elevação dos
juros é que a inflação acumulada em
12 meses está apenas muito ligeiramente acima da meta para 2008, e as
expectativas de inflação dos agentes
de mercado estão literalmente em cima da meta de 4,5%. Além disso, muito da pressão inflacionária vem da alta das commodities, e os juros domésticos mais altos não frearão a elevação
de seus preços, que tem origem no
forte crescimento da economia chinesa. Por que então subir os juros?
Primeiro, porque, ainda que a inflação esteja hoje em patamares comportados, é provável que a continuidade da pressão de demanda venha a
comprometer, em algum momento
adiante, o quadro favorável. Não é nada saudável esperar a inflação incorporar-se para só depois combatê-la.
Mais ainda, como a política monetária afeta as variáveis econômicas
apenas com alguns trimestres de defasagem, é mais importante monitorar o cenário prospectivo da inflação
do que o nível da inflação corrente.
Segundo, pois, apesar de não fazer
sentido combater a alta dos preços
das commodities, faz sentido impedir
-via política monetária- que ela
chegue a outros bens na economia.
Concluindo, vejo necessidade de
um aumento de juros daqui até o fim
do ano. Contudo, como o investimento tem sido bom e as importações têm
dado conta do excesso de demanda,
essa alta tende a ser moderada.
CARLOS EDUARDO SOARES GONÇALVES, doutor em
economia, é professor de economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) e autor
do livro "Economia sem Truques".
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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