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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Desforra e rancor
SÃO PAULO - Para quem esperava
uma oposição desdentada, sem discurso e na defensiva, o ato de lançamento da candidatura José Serra à
Presidência, anteontem, indicou
que as coisas não serão exatamente
assim. Havia em Brasília uma militância numerosa e francamente entusiasmada -cultura petista-, a
ponto de um veterano do PSDB
com senso de humor comentar:
"Que maravilha, conseguimos reunir todos os tucanos do país".
Como já se frisou, a fala de Serra
pregando a "união do país" foi firme
porém modulada -de "estadista".
O tom geral do evento, no entanto,
foi bem mais agressivo.
Em fevereiro, no congresso que
lançou a candidatura Dilma Rousseff, havia entre os petistas um nítido sentimento de desforra. Celebravam a vitória política do lulismo,
tendo vivo na memória o ambiente
de velório do encontro anterior,
ocorrido sob o impacto do mensalão. A famigerada fala de Jorge Bornhausen -"vamos acabar com
aquela raça"- foi então citada (e
linchada) compulsivamente, numa
espécie de ritual catártico do PT.
Anteontem, o clima era menos de
desforra do que de rancor. Humilhada pelo lulismo, a oposição desrecalcou seus demônios. Serra fez
alusão às "falanges do ódio". Mas
coube aos coadjuvantes mostrar as
garras. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, disse que o governo
"não gosta da imprensa livre" e tenta controlar a liberdade de expressão, que confunde acesso à terra
com "ruptura do direito de propriedade" e que o país "seria hoje uma
Venezuela" não fosse a constante
vigilância dos democratas.
Roberto Freire, presidente do
PPS, foi além. Disse que o "Estado
forte" defendido por Dilma, "da forma como vem se articulando com
grandes conglomerados privados, e
na visão totalizante de controle sobre as liberdades das instituições da
sociedade civil, inclusive da imprensa, está longe das concepções
da esquerda e mais se assemelha à
idolatria estatista do fascismo". Foram, os dois, muito aplaudidos. Vale
para registro e reflexão.
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