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FERNANDO DE BARROS E SILVA
No país do Taradão
SÃO PAULO - O presidente do Supremo Tribunal Federal não acha
que a imagem do país tenha sido
maculada pela absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o
Bida. O Tribunal do Júri do Pará reformou a sentença que o condenava
a 30 anos de prisão por ser um dos
sócios patrocinadores do assassinato de Dorothy Stang, em 2005.
A sorte de Bida animou aquele
que seria seu comparsa, o pecuarista Regivaldo Pereira Galvão, que
ainda aguarda o julgamento em liberdade. O apelido dele é Taradão.
Gilmar Mendes, porém, não vê
motivos para indignação. Reagiu a
Lula, entre tantos outros equivocados, para nos ensinar que devemos
"parar com esse tipo de consideração", de achar que só "a condenação
atenderia a boa imagem do Brasil".
Ou alguém acredita, pergunta o
douto do STF, que "a imagem da Inglaterra ficou manchada no mundo
por causa do caso Jean Charles?"
Não é, de fato, a imagem internacional do Brasil que está em jogo.
Pelo menos para quem ainda pensa
fazer parte de uma sociedade, e não
apenas de um mercado desfrutável
e atraente ao olhar estrangeiro.
O que está em questão, bem entendido, não é a imagem, mas a
substância do país. Ou de uma Justiça que mimetiza e reproduz as injustiças que deveria reparar e se
deixa tragar assim pela barbárie;
uma Justiça que tolera, serve como
instrumento de incentivo e termina
por legitimar a impunidade.
Mas "vamos limitar os fatos a eles
próprios", nos recomenda o supremo sábio. Que assim seja. A Comissão Pastoral da Terra informa: entre 1971 e 2007, 819 pessoas morreram vítimas do conflito agrário no
Pará. Desses crimes, apenas 92 resultaram em processos. Desses processos, 22 foram ao Tribunal do Júri: só seis mandantes foram condenados. Nenhum deles está preso.
Vamos repetir, doutor Gilmar
Mendes: não há hoje nenhum patrocinador da pistolagem em cana
no Pará. Nenhum Taradão!
"Limitar os fatos a eles próprios"... Que tal começar não escarnecendo de tanta selvageria?
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