São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Pressão sobre a Grécia

Um ano após receber o maior pacote de socorro da Europa em razão da crise de 2008, no valor de € 110 bilhões (R$ 254 bilhões), a Grécia patina na recessão.
Como pano de fundo da iminente tragédia financeira (um calote), os gregos voltam às ruas, e aos choques com a polícia, para protestar contra as medidas austeras.
O governo em Atenas está no centro de pressões intensas. Não consegue cumprir as metas acertadas com o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia. Há temor de que um fracasso grego contamine países já socorridos (Irlanda e Portugal) e economias fragilizadas, como a da Espanha.
De um lado, o setor financeiro alerta para o risco de que se precipite o calote da dívida pública grega, que caminha para ultrapassar estratosféricos 160% do PIB (o teto para a zona do euro é 60%). A intenção dos bancos seria apressar a aprovação de uma nova remessa de ajuda europeia a Atenas.
Do outro lado, a Alemanha, principal financiadora dos resgates, começa a falar em "reestruturação voluntária" da dívida grega -ou seja, adiamento negociado dos prazos de pagamento e, possivelmente, do valor. O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, oficialmente se opõe a esse curso.
Como há divergências na UE sobre tal solução, o objetivo alemão seria pressionar a Grécia a intensificar as reformas acertadas em 2010. Isso inclui um plano de privatização de € 50 bilhões (R$ 115 bilhões), que está atrasado.
O desacordo prenuncia um impasse. Primeiro, a agência de classificação Standard & Poor's reduziu a nota de risco grega, chamando a "reestruturação voluntária" de "calote seletivo". Em seguida, houve rumores de que FMI e UE teriam acertado mais € 60 bilhões (R$ 139 bilhões) para o país.
Com isso, Atenas conseguiu emitir títulos da dívida pagando juros semelhantes aos de abril. Mas a premiê alemã, Angela Merkel, excluiu qualquer ajuda rápida. Se sair, o novo pacote virá em junho, após missão de avaliação de FMI, BCE e Comissão Europeia.
Sabe-se que a Grécia, com queda do PIB estimada em 3% neste ano, não terá como reduzir seu deficit público a 3% em 2012, como prometido. Não conseguirá, portanto, recuperar credibilidade para buscar financiamento no mercado sem apoio externo.
O caso grego é extremo e ameaça derrubar o edifício criado pela UE para tentar sair da crise, baseado em planos de austeridade.
Tudo indica que a opção agora é entre uma sucessão de resgates bilionários, cenário indigesto para o eleitorado dos países mais ricos do bloco, e um calote negociado.


Texto Anterior: Editoriais: Farra no teto
Próximo Texto: São Paulo - Ricardo Melo: Procura-se um prefeito
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.