São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2011 |
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CARLOS HEITOR CONY Morbidez pública RIO DE JANEIRO - Antes de entregar o pescoço à guilhotina, um condenado comentou: "Liberdade! Quantos crimes se cometem em seu nome!". O mesmo podemos dizer a propósito do interesse público. Muitos crimes são cometidos em seu nome. O mais comum é a invasão da privacidade, do direito de cada ser humano defender a dignidade moral ou corporal. Um criminoso, um assassino, um dirigente corrupto, um ladrão, devem ser denunciados e expostos aos chamados rigores da lei ou mesmo à execração pública. Mesmo assim, os piores criminosos, os mais repulsivos, mesmo merecendo o castigo, continuam a merecer um mínimo de respeito -o respeito que não souberam ter para com os outros e a sociedade. Mas o interesse público não pode ser o valor soberano, acima de qualquer outro valor. Tivemos o caso de um governador, que na etapa final de sua doença, teve sua privacidade exposta. Qual o interesse público em se saber quantas vezes um doente terminal troca sondas, as bolsinhas de colostomia? Um homem público, ou uma personalidade cuja atuação profissional é compartilhada por grande massa de pessoas, pode revelar o tranco amargo que atravessam, mas sem entrar nos detalhes que, afinal, só interessam aos doentes, a seus médicos e enfermeiros. De uns tempos para cá, a mídia adotou o critério de que o interesse público está acima de qualquer privacidade, mesmo a mais íntima, a qual todos temos direito. Há evidente morbidez em se saber como um câncer se irradiou no intestino grosso ou delgado de A ou B, quantas vezes o deputado vomitou durante a quimioterapia. Em saber quantas vezes um senador levanta-se à noite para ir ao banheiro. Noel Rosa perguntou uma vez: "Onde está a honestidade?". Nós devemos perguntar: "Onde está a dignidade?". Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: À pururuca Próximo Texto: Kenneth Maxwell: Charles e as vacas Índice | Comunicar Erros |
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